sexta-feira, 5 de abril de 2013

Uma decisão surpreendente


A cerca de seis meses da realização das eleições autárquicas, na prática, a campanha já está na rua. É certo que há partidos que ainda não escolheram candidatos, mas isso não os impede de andarem por aí em campanha. Candidatos assumidos, há apenas dois e ambos da área socialista: o representante oficial do partido, Pedro Ribeiro, e o actual presidente da Câmara, Paulo Varanda. E a verdade é que, quando se diz que as pessoas não querem ter nada a ver com os políticos e a política, ambos tiveram muita assistência nas suas apresentações. Especialmente, Paulo Varanda, que contou com cerca de 900 apoiantes e, por esse motivo, mesmo sem apoio partidário, parte com legítimas aspirações a ser eleito e manter o cargo que actualmente ocupa. Mas os votos só se contam no fim, depois das urnas fecharem e, em política, é frequente depararmo-nos com surpresas. Ainda me lembro de, no Algarve, assistir à apresentação pública de um candidato da oposição, que juntou 500 pessoas, num município que tinha cerca de 3.000 eleitores. Toda a gente achou que aquilo ia ser um passeio e, afinal, o homem acabou por perder as eleições.

Pessoalmente estou farto de falhar previsões em autárquicas e, desta vez, não faço apostas. Aprendi que são eleições muito específicas, em que contam muitos factores. Desde logo, a tradição eleitoral, há eleitores que votam a vida toda num determinado partido, independentemente de quem seja o candidato que se apresente. Mas também há os que votam em função das pessoas que vão numa ou noutra lista. E depois, há ainda episódios, aspirações e pormenores locais, que, para quem está de fora, parecem coisas insignificantes, mas que são muito importantes para quem lá vive. E, este ano, temos ainda a questão da união de freguesias. É impossível saber como é que vão (ou não) afectar os resultados eleitorais, por exemplo, na Lapa e na Ereira. 

Outro dado que vem baralhar as autárquicas é a surpreendente declaração dos actuais deputados municipais do Bloco de Esquerda, Pedro Mendonça e Odete Cosme de que não serão candidatos nas próximas autárquicas. São os dois rostos mais visíveis daquele partido e, ao longo dos últimos 3 anos e meio envolveram-se numa luta sem quartel contra Paulo Caldas e Paulo Varanda e ergueram bandeiras como a da contestação ao tarifário da água, que, numa primeira fase, teve forte apoio popular, o que obrigou a serem revistas. Devido a esse trabalho e à visibilidade que tiveram tudo o que não se esperava é que agora resolvessem ‘deixar o barco’. Conforme se pode ler na página 13 dão como justificações o cansaço acumulado e o facto de entenderem ser fundamental haver renovação nos cargos políticos. Estão, obviamente, no seu direito de pensarem dessa forma, mas é surpreendente tal decisão. Até porque tudo indica que estas vão ser umas eleições muito disputadas e não deverá haver maioria absoluta. Dessa forma, ganham especial importância e peso político os eleitos das chamadas pequenas forças políticas. Um eventual vereador do Bloco ou da CDU pode desequilibrar os pratos da balança e, exagerando um pouco, ser até ele, de alguma forma, a governar a Câmara. A desistência destes elementos é mais um dado que vem complicar as contas eleitorais.

(Opinião, Jorge Eusébio)

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