segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Vencedores e derrotados

(Primeiro de uma série de posts de análise aos resultados eleitorais no Cartaxo)

Candidatura socialista na entrega de listas ao Tribunal

O grande vencedor das eleições é, obviamente, Pedro Ribeiro que deu mais uma vitória ao Partido Socialista. Embora sem maioria absoluta ganhou umas eleições que não eram fáceis. É certo que o concelho é sociologicamente socialista, mas o surgimento de uma candidatura independente, nascida no seio do próprio PS, deixava antever uma divisão grande na votação. Por outro lado, quer se queira quer não, o PS sempre tem estado no poder no Cartaxo e, portanto, é responsável pela situação terrível que o município atravessa. Quanto mais não seja pelas escolhas que fez. E, portanto, seria normal que fosse, de alguma forma, penalizado.
Afinal, o pior (do ponto de vista de Pedro Ribeiro), acabou por não acontecer. Paulo Varanda conseguiu um resultado que se tivesse sido obtido essencialmente à custa do eleitorado socialista poderia até entregar a Câmara ao PSD. Mas, o seu Movimento acabou por ir 'pescar' votos em várias 'águas' e, inclusivamente, em termos percentuais, até prejudicou mais o PSD do que o PS.

O grande derrotado da noite foi Mário Júlio Reis, que não conseguiu ser eleito para um novo mandato de vereador, em representação da CDU. Costuma-se dizer que o que nasce torto, cedo ou nunca se endireita e, de alguma forma, esse provérbio pode aplicar-se a Mário Júlio que, em Janeiro, disse taxativamente que não seria candidato. Depois, mudou de ideias, aparentemente porque a CDU não arranjava um candidato melhor e lá avançou. Daí para cá, sempre tive a impressão de Mário Júlio estar numa missão de serviço à CDU mas que, intimamente, não se encontrava motivado ao mais alto nível para tentar ser eleito. Na apresentação dos candidatos da CDU fez um discurso de pouco mais de 5 minutos e nos debates na Rádio Cartaxo foi o que menos falou. E daquilo que disse não ficaram, pelo menos na minha memória, argumentos irresistíveis que levassem o eleitorado a nele votar.

Outro dos derrotados foi Vasco Cunha, que via na previsível divisão socialista uma oportunidade única de fazer o PSD chegar ao poder. Ajudou, inclusivamente, a fomentar essa divisão, foi buscar socialistas e muitos independentes para as listas, fez uma campanha sem erros e nem sequer foi muito visado por Paulo Varanda e Pedro Ribeiro, que preferiam atacar-se um ao outro. O resultado da noite eleitoral terá acabado por ser um balde de água fria para Vasco Cunha que, na minha opinião, foi, em boa medida, vítima - a exemplo do que aconteceu com muitas outras candidaturas por esse país fora - da impopularidade do Governo.

Também Francisco Colaço sai destas eleições sem motivos para celebrações. Perdeu mais de 60% dos votos que o Bloco havia conseguido em 2009 para a Câmara e deixa de ter protagonistas no poder local cartaxeiro. Neste caso, a grande 'machadada' foi a decisão dos deputados municipais do Bloco, Pedro Mendonça e Odete Cosme, não serem candidatos. Tinham tido grande destaque ao longo do mandato, assumiram-se como a oposição mais dura à gestão camarária e o lógico era que fossem consequentes e assumissem essa atitude até às últimas consequências, ou seja, indo até às eleições. Não o quiseram fazer, o que deixou o Bloco na situação de fragilidade que teve esta consequência eleitoral.

Igualmente derrotado terá sido Paulo Varanda. É verdade que não teve apoios partidários, mas também não é menos que contou com recursos financeiros bem elevados, tendo em conta o material de campanha que era visível e as iniciativas que desenvolveu. Ainda a seu favor tinha o facto de ser presidente da Câmara, o que lhe dava visibilidade. Vencer era o seu objectivo e não conseguiu, pelo que é um dos derrotados destas eleições. Mas, ainda assim, parece-me ser uma meia-derrota, pois conseguiu um apreciável número de votos, que leva o seu movimento a assumir-se como a segunda força política do concelho. Resta saber agora o que Paulo Varanda vai fazer com estes resultados.

(Opinião, Jorge Eusébio)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Os últimos cartuchos


DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Hoje, estou a queimar os últimos cartuchos. Sinto-me um pouco ansioso e até nervoso, por causa de uma sondagem que nos chegou. Não se trata de uma daquelas marteladas, é uma a sério, feita para consumo próprio e não para fins propagandísticos.
E a verdade é que ela indica que as eleições não são favas contadas. Há uma luta, quase taco a taco, entre mim e o Ramalho. Ainda continuo na frente, muito provavelmente, vou ganhar, mas, quase de certeza, sem maioria absoluta. É um autêntico balde de água fria!
Até às tantas da noite desdobrei-me em telefonemas para dar ânimo ao meu pessoal e coordenar a intensificação da campanha ao longo do dia de hoje. Vamos andar por todas as freguesias com os carros de som e a malta a distribuir propaganda. Ao fim da tarde, arrancamos com uma caravana que tem de ser a maior que já circulou por aí, temos de dar um sinal de força rumo à vitória.
Depois disso, os dados ficam lançados, nada mais há a fazer a não ser tomar uma dose reforçada de Xanax e dormir até às quinhentas. Ao acordar, convém meter uma cunha a todos os santinhos para me ajudarem. Não sou um tipo religioso, mas confesso-me um gajo pragmático e com a decisão em aberto há que reconhecer que toda a ajuda é bem-vinda. Seja ela real ou imaginária.
E até estou disposto, caso o Além atenda às minhas preces, a fazer a promessa sagrada de que serei um bom presidente da Câmara, que olhará apenas e só para o interesse público e não para o seu, do partido, dos amigos e apoiantes. Pronto, está bem, sei que é uma promessa manhosa que, muito provavelmente, não irei cumprir, mas se Deus existe mesmo, sabe perfeitamente como funcionam os políticos e certamente não me levará a mal.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Serviço público
Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Serviço público

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

A situação financeira da Câmara é catastrófica. Disso se queixam os meus concorrentes e eu próprio. Fartamo-nos de dizer que não há dinheiro para nada e que o município vai andar a pão e água durante muitos anos. Em suma, garantimos que pior do que isto só mesmo o fim do mundo ou, ainda mais grave, a possibilidade do Benfica voltar a perder três títulos em duas semanas.
Mas aqui que ninguém nos ouve, até estou satisfeito por a situação ser esta. Assim que ganhar as eleições e tomar posse vou dizer que é ainda pior. Com esse cenário pintado, ao longo dos próximos dois anos e meio, as associações e juntas de freguesia não me vão chatear a pedir dinheiro nem as pessoas me exigirão qualquer obra de vulto.
Com essa folga, vou resolvendo os problemas financeiros, aos poucos, a situação do país há-de melhorar e começará a entrar algum dinheiro na Câmara. Sem que alguém dê por isso, vou colocando alguma verba de lado e, a ano e meio das eleições seguintes, começo a fazer obra que nunca mais acaba e acabo por ganhá-las com uma perna às costas.
Portanto, oito anos à frente da Câmara já ninguém me tira. O problema é que parece que a lei foi alterada e, ao fim desse tempo, não me vai ser ainda possível ir embora com a reforma garantida.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Frases bonitas que não querem dizer nada

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Esta é a altura da campanha em que nos fartamos de distribuir os folhetos com as fotografias dos nossos candidatos e o essencial do programa para cada freguesia. A técnica é simples. Faz-se um desdobrável A4 ou A5 de quatro páginas. Na primeira, coloca-se a foto do cabeça-de-lista, um slogan e o apelo ao voto na nossa candidatura. Na última, espeta-se as fotos de todos os que fazem parte da lista. É muito importante que não falhe nem uma.
Nas páginas centrais coloca-se mais uma ou duas fotos, normalmente, a do candidato à Junta e a minha e uma frase de cada um. O resto enche-se com texto que se vai buscar a programas de anteriores eleições, pois isto, basicamente, é sempre a mesma lengalenga.
Contudo, este ano, temos que ter um pouco mais de atenção. Como há a possibilidade de ganhar as eleições, convém eliminar qualquer tipo de promessa concreta que tenhamos utilizado nas últimas autárquicas. Em alternativa, garantimos que vamos "promover o progresso", "dinamizar as actividades económicas", "apoiar os mais desfavorecidos" e "potenciar os recursos da Câmara". São frases que caiem sempre bem mas que, felizmente, não querem dizer nada.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Ontem à noite, fizemos uma reunião da direcção de candidatura para levar a cabo um balanço e definir estratégias para a última semana de campanha. Foi unânime a ideia de que nos mantemos na frente e que temos todas as condições para ganhar as eleições. Tal como esperávamos, duas das candidaturas estouraram autenticamente e mostraram não ser rivais à altura. A única que ainda continua com algum fôlego é a do Ramalho e é com essa que temos de nos preocupar.
Em devido tempo, elaborámos um dossier com os podres todos dele e dos gajos que o acompanham e agora havia que decidir o que fazer com o documento. O meu director de campanha defendeu que devíamos aproveitar as entrevistas, debates e comícios que ainda temos pela frente para os expor publicamente. Uma ideia que contou com muito apoio, o que me deixou numa situação complicada. Tive de usar toda a minha autoridade, prestígio e esgrimir os melhores argumentos que me ocorreram para os convencer a não irem por esse caminho.
Lembrei-lhes que a nossa candidatura é diferente, que fazemos política por convicções e queremos essencialmente acabar com a tradicional maneira porca de a fazer. Portanto, nenhum de nós devia publicamente dizer uma palavra que fosse sobre os 'pecados' daquela gente. Concordaram, sobretudo, depois de lhes lembrar que também nós não somos perfeitos e de certeza que eles sabem disso.
Portanto, vamos manter o rumo e continuar a desenvolver uma campanha séria, limpa, honesta e sem ataques pessoais. E obviamente que não será culpa nossa se o dossier sobre os nossos adversários aparecer, anonimamente, nos e-mails da comunicação social e começar a circular de boca em boca sob a forma de rumores, boatos e insinuações.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO

sábado, 21 de setembro de 2013

A guerra dos porcos

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
Afinal, lá realizámos o comício. À última hora, conseguimos contratar um tipo que sabe assar porcos no espeto e, como se esperava, com este problema resolvido, o comício acabou por ser um êxito.
Apareceu muita gente, comeram bem, beberam melhor e cumpriram decentemente o seu papel de aplaudir e agitar bandeirinhas.
No final, foi muito agradável ouvi-los dizer que tinham gostado muito do meu discurso e garantido que iam votar na minha candidatura.
Foi bom e melhor seria se pouco depois não tivesse recebido uma notícia que me deixou e à minha equipa em estado de choque: uma das candidaturas concorrentes estava a preparar uma jogada suja. Como não têm ideias próprias, vão copiar a nossa estratégia e fazer também um grande comício para o qual já encomendaram a brutalidade de... 15 porcos para transformar em bifanas e distribui-las à borla por quem apareça.
Para grandes males, grandes remédios. Dei logo ordem ao Ricardo para organizar outro evento e comprar pelo menos 20 porcos. Vamos rebentar com o orçamento da campanha, mas que se lixe. Sempre quero ver quem consegue os melhores argumentos para convencer o eleitorado.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O gajo não podia ter adoecido noutra altura?

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
O comício de logo à noite é muito importante. Por isso, passei as últimas horas a escrever, a ler, a rever e a corrigir o meu discurso.
Com a tarefa concluída, liguei para os restantes elementos da lista que vão, igualmente, dizer umas palavras e fiquei tranquilo. Também eles já haviam preparado as suas curtas intervenções.
O meu interlocutor seguinte foi o Ricardo que me garantiu já ter decorado a sala e ter as bandeirinhas a postos. Óptimo. Saí e fui ao café desanuviar um bocadinho. 
Ao regressar, constatei que me havia esquecido do telemóvel, o qual se encontrava numa aflição tremenda. E o caso não era para menos. Definitivamente, o comício estava lixado, o melhor era até cancelá-lo. É que, afinal, o homem que contratámos para assar os porcos teve um problema qualquer de saúde e não pode vir. E o diabo é que, como toda a gente sabe, as ideias e os discursos podem ser muito bonitos, mas se não há bifanas e cerveja à borla, ninguém aparece.
Raios parta esta merda. O gajo não podia ter adoecido noutra altura?


 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO:
 Ganho pouco
Uma equipa de gente séria
Sondagens marteladas

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ganho pouco

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
Não sou uma pessoa muito simpática. Por natureza, sou até pouco sociável, um autêntico bicho do mato. Mas ninguém diria, pois sou um mestre na arte de disfarçar os meus sentimentos. Em público mostro-me sempre bem-disposto, aperto as mãos com convicção e um sorriso nos lábios aos homens que se me apresentam pela frente e distribuo beijos sem fim às senhoras. 
Também não sou um homem de fé, mas estou sempre batido nas missas, nas procissões e, nesta altura do campeonato, até nos funerais. 
Não percebo nada de economia, mas quem me ouve falar durante dois minutos fica, imediatamente, convencido da minha competência na matéria e que tenho as soluções mágicas para resolver a grave situação financeira da Câmara e, quiçá, do próprio país.
Modéstia à parte, sou um excepcional actor. Por isso é que me revolto sempre que ouço tiradas populistas do género dos políticos ganharem demasiado. Admito que isso seja verdade em relação a alguns colegas, mas, no que me diz respeito, acho que recebo infinitamente menos do que mereço. E é fácil fazer as contas. Comparados comigo, o Robert de Niro e a Julia Roberts são actores fraquinhos ou, vá lá, de talento mediano. E se exigem uns cinco ou seis milhões de dólares por cada filme que protagonizam, eu deveria ganhar, pelo menos, aí uns 10 milhões por cada campanha eleitoral que faço.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Uma equipa de gente séria
Sondagens marteladas

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Uma equipa de gente séria

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
Tenho um grande orgulho na minha equipa que bate, de longe, as de todas as outras candidaturas. É, para começar, a mais representativa. Temos pessoas de todas as freguesias, ligadas às colectividades, aos clubes, à vida comunitária e cultural. Temos candidatos de todos os estratos etários, dos 18 aos 85 anos! Temos representantes de todas as classes sociais: gente abastada, empresários de sucesso, doutores, engenheiros, mas também pedreiros, carpinteiros e desempregados. Tudo gente séria, que está nesta equipa de forma desinteressada, por amor à terra, para tentar melhorar o ambiente, os espaços verdes, a educação, o trânsito, para ajudar a trazer empresas e empregos para o concelho. É gente que me enche de orgulho. Muita gente, mesmo. No total, julgo que serão mais de uma centena. Com a ajuda de tantos esforçados cidadãos, não tenho dúvidas que vou ganhar as eleições. O pior vai ser depois, quando começarem a bater-me à porta para pedir uns tachos para eles, para os filhos, para os sobrinhos, para as mulheres ou para as amantes…

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Sondagens marteladas

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sondagens marteladas

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Com as eleições a aproximarem-se,  já cá faltava a clássica jogada das sondagens marteladas. Um dos nossos adversários anda por aí a espalhar aos quatro ventos que tem uma que lhe dá maioria absoluta. Esta gente, ao fim de quase 40 anos de democracia, ainda não aprendeu nada. Como se as pessoas ainda caíssem neste embuste. Uma candidatura que não tem equipas minimamente dignas, que não tem ideias, não tem projectos, enfim, que não tem nada… Como se não estivesse na cara que se ficar em quarto lugar já é muito bom. Agora, pagarem uma pseudo-sondagem que lhes dá a vitória não lembra ao diabo.
Isto é um tipo de jogada que podia resultar há 10 ou 20 anos atrás. Mas agora? Pelo amor de Deus, as pessoas já não são parvas! Mas, pelo sim, pelo não, vou já encomendar uma que também me dê maioria absoluta.


 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O raio da Comissão Nacional de Eleições é que não deve ir na conversa

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*) 

Acabei de vir de uma acção de campanha que correu bastante bem. A adesão às nossas propostas é cada vez maior, pelo que conseguimos despachar muito rapidamente todos os isqueiros, balões, bonés, t-shirts e canetas que tínhamos para oferecer.
Com essa parte resolvida, abancámos num restaurante e aproveitámos para ver a bola na televisão. Ao longo das horas seguintes, entre uma garfada de cozido à portuguesa e um copo de bom vinho da adega local, fomos comentando os erros do árbitro, discutindo sobre se o bom arranque do Sporting é um acidente e se, no Benfica, o Jesus consegue chegar ao Natal. Foi uma boa jornada de trabalho em que se falou de tudo menos de política, o que, nesta altura do campeonato, sabe bastante bem.
Minto. No final, já na rua, e à procura do carro, ainda trocámos impressões sobre duas ou três formas de lixar os anormais dos nossos concorrentes. E o Rui, sob o efeito do álcool, saiu-se com uma parvoíce das suas, o que não é de espantar. Dizia ele que é um desperdício andar a oferecer t-shirts e demais traquitanas às pessoas sem exigir nada em troca. Devia-se era gastar o dinheiro numa dúzia de computadores portáteis ou tablets para sortear depois das eleições entre os que votassem em nós. “E como é que se conseguia saber isso?”, perguntou o Xico. “Muito simples”, respondeu o outro, “após fazerem a cruz, as pessoas fotografavam, com o telemóvel, o boletim de voto que depois apresentavam como prova”. Toda a gente se riu do gajo, mas, agora, pensando bem, era capaz de não ser má ideia. O raio da Comissão Nacional de Eleições é que não deve ir na conversa.

*Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Não se pode exterminá-los?

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
A entrevista na rádio correu bem. Mal saí do estúdio comecei a receber chamadas que confirmavam isso mesmo. O Jorge, o Armando, a Cátia e muitos outros fizeram questão de me felicitarem pela prestação. É gente isenta, que não mente e em cuja opinião posso confiar. É claro que por irem todos na minha lista, os más-línguas habituais poderão maldosamente alegar que estavam a dar graxa ao chefe. Mas eu sei que não é assim.
O que me irritou um pouco foi a tendência do entrevistador para cortar-me o raciocínio. É difícil passar uma mensagem quando nos estão a interromper... de dez em dez minutos. Ainda por cima com perguntas parvas e conclusões mais do que abusivas.
Por exemplo, ao longo dos anos sempre tenho criticado os gastos exagerados da câmara e a contratação, por parte do partido do poder, de um verdadeiro exército de boys, amigos e familiares. Pois bem, baseado nisso, o jornalista parece que queria que eu dissesse que ia fazer despedimentos, de forma a correr com essa gente, baixando, assim, os custos da autarquia. É claro que lhe dei a volta e contra-ataquei com o argumento clássico de que é preciso é motivar os funcionários para que trabalhem melhor e prestem um serviço de maior qualidade à população. Não sou suicida para vir assumir despedimentos a poucas semanas das eleições e correr o risco de perder centenas ou, mesmo, milhares de votos.
Mas o raio do homem fartou-se de insistir na pergunta, o que só me levou a consolidar a ideia de que as entrevistas  - pelo menos, comigo - funcionariam muito melhor se não tivessem entrevistadores jornalistas. É uma raça que não interessa nem ao menino Jesus.

*Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO

domingo, 8 de setembro de 2013

O grande negócio das privatizações

Os CTT tiveram mais de 30 milhões de euros de lucros no 1º trimestre.  Dando de barato que no segundo semestre há uma quebra, imaginemos que fecha o ano com  50 milhões de lucro, que revertem a favor do seu único acionista, o Estado português. Se a média anual continuar a ser esta, nos próximos 10 anos, entrariam nos cofres públicos 500 milhões de euros vindos dos CTT. Já não vão entrar, porque a empresa vai ser privatizada. Os trocados que a operação render vão direitinhos para alguns banqueiros que nos emprestaram dinheiro e, a partir daí, todo o lucro que os CTT fizerem vão para mãos privadas. Mais um grande negócio em perspectiva, tal como foram os da GALP, EDP, REN e por aí fora.

(Opinião, Jorge Eusébio)

sábado, 7 de setembro de 2013

A alegria das festas populares

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Estou cansado, mas satisfeito. Só nos últimos dois dias, passei por quatro festas populares e contactei com muitas centenas de potenciais eleitores. Gosto à brava deste tipo de eventos, de falar com o povo, das palmadinhas nas costas, das imperiais, da sangria, das bifanas e sardinhadas, da música popular e de mostrar os meus dotes de dançarino. E de tirar fotografias de toda esta actividade para mostrar no Facebook. Enfim, na verdade, até não aprecio nada disto, mas estamos em campanha... E até dia 29, ainda vou ter de passar por mais cerca de três dezenas de festarolas, parece que, no concelho, não se faz mais nada. E depois admiram-se das coisas estarem como estão.
Juro que, se depois deste sacrifício brutal, não ganho as eleições, ainda dou um tiro em alguém.

Arquivo 'O Candidato Imaginário':

*Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

A pensar no sentido da vida

 A Dª Maria Amélia atarefada numa das suas ocupações favoritas: descansar.


 


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Gente de princípios

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Chamo-me Vicente e sou candidato à presidência da Câmara. Hoje consegui finalmente reunir-me com o Armindo, um tipo popular e influente no concelho. Vale muitos votos, por isso, há muito tempo que andava a tentar garantir o seu apoio. Encontrámo-nos na minha sede de campanha e falámos durante quase uma hora. Melhor, falou ele. Lembrou os tempos pós-25 de Abril, o tipo de campanha que se fazia, as razões que o levaram a romper com o partido e a ficar desiludido com a política. É um indivíduo interessante, mas que fala demais. Felizmente, também fuma bastante e aproveitei uma pausa que fez para acender mais um cigarro para lhe ‘vender o meu peixe’. Comecei por lhe falar da malta que faz parte da minha equipa, dando especial destaque a dois ou três que sabia serem seus amigos. Não obtive grande reacção e passei à apresentação do programa eleitoral. Aqui e ali acenava com a cabeça, o que me indicava estar no bom caminho. Acertei, pois, poucos minutos depois, garantiu que me apoiava e que participaria na campanha a meu lado. Pelos vistos, tinha gostado dos nomes da equipa e do programa eleitoral. E, provavelmente, também apreciou um bocadinho que lhe tivesse garantido emprego ao filho na Câmara, assim que fosse eleito presidente.

*Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Político dá música

Desafiado por David Antunes, o actual presidente da Câmara do Cartaxo e candidato independente nestas autárquicas, Paulo Varanda, subiu ao palco e deu uma de cantor.