quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Assim já dá gozo

Os dirigentes e deputados do CDS são uns desgraçados, fartam-se de sofrer. Enfim, alguns deles, como, por exemplo, o próprio Paulo Portas. Vê-se que os homens nasceram para estar na oposição, o seu talento é oporem-se a quem governa. Daí que seja um sacrifício para estas almas terem o CDS no governo. Felizmente que é o partido minoritário e, por isso, para não perderem o hábito, semana sim, semana não, vão fazendo oposição a quem é suposto mandar no governo, o PSD. Mas, mesmo isso não lhes enche a alma. Fazer oposição selectiva dá trabalho, é chato. É mais fácil pegar na bazuca e disparar a eito contra todos os que estão no poder.
Deve ter sido esse o pensamento do deputado centrista João Almeida ao, a pretexto de uma proposta de limitação de animais em apartamentos, atacar a ministra da Agricultura, que, por acaso, é sua colega de partido.
Na altura em que escrevo este texto, Paulo Portas apresenta o programa de reforma do Estado. Espero que João Almeida não me desiluda e venha rapidamente criticar o seu chefe de partido. Quanto mais não seja pela forma chata como faz a apresentação.

(Opinião, Jorge Eusébio)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

E agora?

(Quarto de uma série de posts de análise aos resultados eleitorais no Cartaxo)

Os eleitores do Cartaxo deram a vitória ao PS, mas com maioria relativa. Isso significa que o PS terá de encontrar apoios para levar a cabo o seu programa.
Olhando para a Câmara, verificamos que foram eleitos 3 elementos do PS, 2 do Movimento pelo Cartaxo e outros 2 do PSD. Em face deste cenário como é que pode ser assegurada a governabilidade?
Para alguém que acompanhou a política cartaxeira ao longos do último ano, a resposta não tem dificuldade nenhuma. Terá de ser através de um entendimento entre o PS e e PSD. É que, depois do que disseram um do outro e do clima de conflitualidade que rodeou as relações entre Pedro Ribeiro e Paulo Varanda, não passa pela cabeça de ninguém (embora, como se sabe, em política tudo seja possível) agora entenderem-se os dois.

Uma das hipóteses é que o entendimento entre o PS e o PSD possa tomar a forma de uma coligação oficial e abrangente, que inclua todos os órgãos autárquicos. A segunda possibilidade é que se opte por acordos pontuais, negociados caso a caso.
Do ponto de vista da governabilidade do concelho, numa altura em que há problemas muito graves para resolver, seria preferível um acordo formal e global. PS e PSD juntos assegurariam a maioria não só na Câmara, como na Assembleia Municipal e ainda em quatro das seis freguesias (União Cartaxo/Vale da Pinta; União Ereira/Lapa; Vale da Pedra e Vila Chã de Ourique). Seria, assim, possível aos autarcas eleitos trabalharem com tranquilidade e colocarem a sua atenção e empenho na busca das melhores soluções e não na negociação política de cada uma das propostas.

No entanto, não acredito que se avance para uma coligação. Para o PSD seria uma opção muito arriscada. Pela positiva, tinha, finalmente, a possibilidade de deixar a sua marca no concelho, uma vez que os seus eleitos passariam a ter pelouros e responsabilidades executivas. Mas o problema é que deixaria toda a oposição para Paulo Varanda e o Movimento pelo Cartaxo. Corria, pois, o risco de, nas próximas autárquicas, quem concordasse com a forma como o concelho foi governado votasse no PS (o principal partido da 'coligação') e os outros dessem a sua confiança ao partido da oposição, o Movimento pelo Cartaxo, ficando o PSD numa posição irrelevante.

Portanto, acho que os social-democratas vão mostrar disponibilidade para ajudar na governabilidade do concelho, mas com negociações caso a caso e impondo condições ao PS. Como não acredito que os dois partidos estejam interessados em provocar eleições antecipadas, nos primeiros tempos, com maior ou menor dificuldade, penso que os problemas serão ultrapassados. A partir do meio do mandato, com os olhos já colocados nas próximas eleições, é que as coisas podem complicar-se.

(Opinião, Jorge Eusébio)

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A origem dos votos de Paulo Varanda

(Terceiro de uma série de posts de análise aos resultados eleitorais no Cartaxo)

Ao longo da campanha eleitoral sempre pensei que a esmagadora maioria dos votos que Paulo Varanda e o Movimento pelo Cartaxo iriam conseguir seria à custa do Partido Socialista. À primeira vista, uma análise aos resultados indica que é capaz de não ter sido bem assim. Recordo que, em comparação com 2009, o PS perdeu 1249 votos, o PSD 1097, a CDU 383 e o Bloco de Esquerda 529. Sendo que Paulo Varanda obteve 2821, poder-se-ia concluir que foi buscar um grande número de votos a todos os quadrantes. E, se calhar, até foi.

No entanto, continuo convencido que a grande maioria dos seus votos foi 'roubada' ao PS. Primeiro, porque se olharmos para as pessoas que constituíram o núcleo-base de Paulo Varanda eram quase todas da área socialista e não acredito que não tenham conseguido trazer consigo muitos votos.
Depois, porque me parece pouco lógico que das candidaturas do Bloco e da CDU tenham saído quase mil votos para Paulo Varanda e que o mesmo destino tenha tido a esmagadora maioria dos quase 1100 que o PSD viu fugir.

Parece-me mais razoável pensar que tenha havido uma transferência de, digamos, para aí uns 2000 votos do PS para Paulo Varanda e que os restantes tenham vindo da abstenção e umas centenas, sim senhor, do PSD e eventualmente umas dezenas da CDU e, até, do Bloco. Mas, nestes dois últimos casos, em número bastante reduzido.

Depois, terá havido uma fuga de votos do PSD para o PS por dois motivos essenciais. Por um lado, gente que há 4 anos votou nos social-democratas mostrou-se agora desiludida com o Governo e resolveu mostrar-lhe o cartão amarelo desta forma. A outra razão prende-se com o voto útil. Muitos eleitores que não gostam de Paulo Varanda e da sua governação e que, eventualmente, terão votado PSD em 2009, agora optaram por dar o seu voto ao PS por pensarem ser o partido que estaria em melhores condições de vencer as eleições e derrotar o actual presidente da Câmara. O mesmo fenómeno do voto útil terá afectado, igualmente, a CDU e, em maior escala, o Bloco de Esquerda. 
Enfim, pelo menos, é esta a análise que faço dos resultados eleitorais e que pode estar completamente errada, como é óbvio.

(Opinião, Jorge Eusébio)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O que aconteceu ao PSD?

O PSD/Cartaxo tinha quase tudo para ser feliz no dia das eleições. Estou no concelho há poucos anos, mas pessoas que há muito tempo acompanham a política e em cuja opinião confio dizem-me que apresentou das listas mais equilibradas de sempre. Foi também visível que fez uma campanha organizada e com cabeça, tronco e membros.
Mas, mais importante do que isso, tinha os seus rivais socialistas divididos em duas candidaturas, o que lhe dava a esperança de, eventualmente, poder ganhar as eleições, mesmo não tendo mais votos do que em 2009. Na base desta expectativa estava a ideia de que a esmagadora maioria dos votos que Paulo Varanda e o seu movimento conseguissem seriam votos retirados ao PS. E imaginemos que dos 2.281 votos que o ainda presidente de Câmara conseguiu, aí uns 75% tivessem realmente sido 'roubados' ao PS. Isso significaria que Pedro Ribeiro ficaria com menos de 3.300 votos. Ora tendo em conta que o PSD em 2009 obteve 3.309, estaria na luta pela vitória.

Um cenário que não se concretizou, acabando os social-democratas por ter um péssimo resultado. O que é que aconteceu?
Para responder a essa pergunta, convém regressar à fase de escolha do cabeça-de-lista. Havia duas hipóteses: ou o PSD voltava a apostar num independente, que desse uma imagem de maior abrangência ou apostaria numa figura partidária com grande experiência e capacidade política. Na altura, defendi que haveria mais vantagens da parte dos social-democratas em irem pelo primeiro caminho, voltando a apostar em Paulo Neves. Isso tinha a ver com a situação nacional que poderia contaminar as eleições locais. As pessoas do Cartaxo sabem que a Câmara está numa situação financeira muito complicada, vêm os caminhos e estradas esburacados, os apoios às colectividades cortados e, obviamente, não gostam e haverá a tendência de castigar nas eleições quem consideram responsáveis por isso. Mas também não gostam seguramente de ver os seus salários diminuídos, os seus impostos aumentados e os seus familiares desempregados. E sabem que a responsabilidade por isso acontecer é do poder central e não do local. Era previsível que muitos tivessem a tentação de punir o principal partido do poder, o PSD, nestas eleições.
Um candidato independente poderia mais facilmente demarcar-se do Governo. Bastava-lhe dizer que não era militante do partido, que também sofria por essas políticas, que não as defendia e que só se candidatava para fazer o que fosse possível pela sua terra. Caso arrumado.
O mesmo não poderia fazer uma pessoa como Vasco Cunha cuja imagem, por ser deputado, estava muito colada à política do Governo.
Ora, como se sabe, o PSD optou por avançar com Vasco Cunha. Mas, consciente do perigo que referi, tentou equilibrar as listas, enchendo-as de independentes e até de gente ligada à área socialista, procurando também, por esta via, dividi-la ainda mais. A estratégia pareceu-me inteligente e os social-democratas até tiveram a sorte de PS e Paulo Varanda não atacarem Vasco Cunha, ao longo da campanha, de forma a colá-lo ao Governo.

Afinal, as pessoas resolveram aproveitar mesmo as eleições locais para mostrarem um cartão amarelo ao Governo. Isso fez com que a maior parte das candidaturas do PSD apanhassem por tabela e registassem votações muito abaixo do que esperariam. Isso também aconteceu no Cartaxo.
Mas parece-me haver outra razão para o descalabro local dos social-democratas. Ao contrário do que eu próprio esperava, a votação de Paulo Varanda não foi conseguida, em boa medida, à custa do PS. Ao analisar os resultados, verificamos que, aparentemente, terá ido buscar votos a todos os partidos e um dos mais prejudicados até foi o PSD, que perdeu quase 1.100 votos. É evidente que não se pode dizer que houve uma transferência directa de votos da CDU, do Bloco e do próprio PSD para Paulo Varanda, ter-se-ão registado, seguramente, transferências cruzadas e haverá gente que não tinha votado há quatro anos e que foi votar agora. Mas o que é facto é que  todos esses partidos (PS incluído) perderam votos e Paulo Varanda arrecadou mais de 2.800.
Terá havido, igualmente, uma tendência para o voto útil. Muitos cartaxeiros que não gostavam de Paulo Varanda e da sua gestão poderão ter olhado ao lado e verificado que a melhor forma de o afastar do poder seria votarem na candidatura que estava estava em melhores condições de o derrotar e optaram pelo PS.

Mas a política (tal como a vida) não deixa de ser irónica. Apesar de ter tido um dos seus piores resultados de sempre nestas eleições, o mandato que se aproxima até pode ser aquele em que o PSD tenha mais influência e deixe a sua marca na governação autárquica. Mas sobre isso falarei num próximo post.

(Opinião, Jorge Eusébio)