segunda-feira, 22 de abril de 2013

"Não sei se tenho talento para a fotografia"

Este Domingo, o fotógrafo António Homem-Cardoso esteve no Centro Cultural do Cartaxo (CCC) para a habitual tertúlia “José Raposo Convida”.  António Homem-Cardoso nasceu em 1945, numa aldeia perto de Viseu, e desde os 14 anos que a máquina fotográfica começou a fazer parte da sua vida.  Foi em Lisboa, para onde foi viver a partir dos 10 anos, que aconteceu o episódio que considera ter mudado a sua vida. “Ia a passar na Praça de Touros de Algés quando vi uns projectores acesos e reparei que era um filme que estava a ser rodado, com os actores Eddie Constantine e Barbara Lage. Eles simpatizaram comigo, convidaram-me para figurante e mascote e pagaram-me 1363 escudos, uma fortuna na altura. No final, o Constantine ofereceu-me a sua máquina fotográfica”, contou António Homem-Cardoso.

Ao longo da sua vida, muitas foram as figuras públicas que fotografou e com muitas delas estabeleceu laços de grande amizade. Conheceu e fotografou personalidades como o Papa João Paulo II, o príncipe Rainier ou o sultão Oman. É o fotógrafo oficial da Casa Real Portuguesa e, através de D. Duarte, conheceu grande parte dos príncipes e famílias reais de toda a Europa. Foi para a imprensa que começou a trabalhar, principalmente para o Diário Popular e Diário de Notícias, nos anos 60. “Apaixonou-se” por África quando passou a trabalhar para a revista Observador e após o 25 de Abril optou por se dedicar à fotografia publicitária.  O sucesso foi tanto que teve “de aumentar o preço das fotografias para poder ter tempo para comer e dormir”. Mais tarde, optou pelos livros e já conta com mais de uma centena de obras publicadas.  Mas são sobretudo os retratos que o fascinam. Para ele, “não há retrato sem relação, sem o embate entre as dúvidas de quem retrata e de quem está a ser fotografado. Tive a sorte de ser um homem a quem as mulheres se confessam”, revela, acrescentando convictamente que “o fotógrafo tem de ser alguém em quem se confie”.

Com um grande sentido de humor, que caracterizou toda a sua conversa – ao longo da qual revelou ser também “um óptimo contador de histórias”, como considerou José Raposo – António Homem-Cardoso descreve com facilidade o melhor da fotografia: “dar a possibilidade de viver sem ter um emprego”, à qual se junta “o lado alegre da descoberta de uma profissão necessariamente cultural, através da qual se conhece o mundo”. Depois de tantos anos de carreira, António Homem-Cardoso afirma não saber se tem talento para a fotografia. “Sempre achei que a minha profissão não tinha importância nenhuma, mas acredito que tenho feito as coisas certas”. Independentemente da formação, considera que “um bom fotógrafo precisa é de ver. Se tiver uma visão razoável e amor ao mundo, pode sobreviver sem ter de aturar o chefe”, rematou, provocando uma vez mais muitos sorrisos na assistência.

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