quinta-feira, 28 de março de 2013

A culpa foi do árbitro e da chuva

Se Sócrates fosse treinador de futebol, a entrevista de ontem teria sido mais ou menos assim:

Jornalista (J) - Mister, quais são as suas primeiras impressões sobre o jogo?
Sócrates (S) - Foi um bom jogo, gostei muito da minha equipa, esteve muito bem, o que não admira porque a orientei de forma superior, como é hábito.
J - Sai daqui de consciência tranquila, portanto.
S - Com certeza. Fomos uma equipa aguerrida, unida, marcámos um excelente golo, demos show de bola, tivemos um enorme azar com aqueles remates à trave, controlámos totalmente o jogo durante quase 60 minutos, era quase impossível pedir mais aos jogadores e a mim próprio.
J - Mesmo perdendo o jogo?
S - Mau, essa pergunta do senhor jornalista parece encomenda de alguém. Está a confundir as coisas, a misturar o que não deve ser misturado. Convém que haja honestidade intelectual. Como toda a gente viu, as dificuldades só surgiram por causa da chuva, que começou a cair de forma intensa depois dos 60 minutos. Acha que, com o tempo que tem estado, eu podia prever este temporal e preparar a minha equipa para lhe fazer face?
J - Está bem, mas a chuva criou dificuldades às duas equipas...
S - Mais uma vez, está a repetir a narrativa sem contraditório dos meus adversários. Não viu que caiu muito mais no nosso lado?
J - Pronto, mas a chuva não explica tudo. Acha mesmo que não teve qualquer responsabilidade no resultado? Uma derrota por 5-1 é pesada.
S - Isso é a sua opinião.
J - Uma derrota por 5-1 não é pesada?
S - Contesto esses números.
J - Não tem nada de contestar, foi o resultado final, é o que está no boletim do árbitro.
S - Não reconheço autoridade moral ao árbitro para escrever uma coisa dessas. Ele foi um árbitro parcial, esteve sempre contra nós, marcou faltas e foras-de-jogo que não existiram. Foi uma vergonha, esse árbitro. Ele e a sua equipa conspiraram para me fazer perder o jogo.
J - Portanto, e em conclusão, sai daqui satisfeito.
S - Muito satisfeito.
J - Apesar da derrota.
S - Não houve derrota nenhuma.

(Opinião, Jorge Eusébio)

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