sábado, 22 de dezembro de 2012

Época perigosa



E pronto, lá chegamos à época mais bonita e irritante do ano. Bonita, pelo simbolismo e pelo que representa. Irritante, porque é aquele período em que toda a gente se torna subitamente boazinha e desata a desejar tudo de bom a toda a gente que esteja à sua volta. Mesmo à que detesta durante o resto do ano ou até mesmo durante o Natal. Mas esta é também uma quadra perigosa. Acho que, por estes dias, não devemos concentrar todas as nossas atenções na compra de presentes, na ementa de Natal e no envio de mensagens de boas-festas. Na minha modesta opinião, é conveniente manter especial atenção e vigilância às medidas que o Governo toma. É que, se pensarmos bem, é a altura perfeita para Passos Coelho e Companhia aumentarem ainda mais os impostos. Se o fizerem, com sorte, ninguém dará por isso. E, se derem, também não há problema, pois a época natalícia convida à paz, à tolerância e ao perdão. Se deixar escapar esta oportunidade, o melhor que o Governo tem a fazer é esperar por uma vitória do Benfica nas competições europeias. Com o país em festa, ninguém vai ligar a nada do que faça.
Falando, agora, a sério, este é um Natal sem razões para qualquer tipo de festejos e alegria. Que o digam os 700 mil desempregados do país, os 10 mil empresários que tiveram de pedir a insolvência no último ano; os muitos que também fecharam portas sem pedir insolvência; os outros que teimam em lutar contra a corrente e que são atacados sem piedade pelo fisco. Isto para já não falar dos cidadãos que, sem dinheiro para pagar as contas a tempo e horas, são roubados pelos bancos que, para além dos juros de mora, ainda lhes cobram uma multa. Tudo legal, imagino.
É mais um Natal que se vai sem que alguém nos explique porque carga de água temos de continuar a pagar as dívidas do BPN, se nunca fomos donos, investidores ou clientes do banco. Até porque, ao que se sabe, os seus accionistas, que ganharam milhões, continuam com um belo pé de meia que podia ajudar a pagar uma parte da confusão que fizeram. Mais um Natal que se escapa sem que o Governo explique quais são as empresas que, indo à falência, se pode entregar ao Estado. Mais uma época natalícia que passa sem que se entenda porque é pagamos juros à troika de 3,5 ou 4,5 por cento, enquanto que os espanhóis conseguem pagar só 0,5 por cento. Sem que se perceba porque é que os gregos, que não cumprem, vêem as suas condições suavizadas, enquanto que nós, os bons alunos, continuamos a ser sugados até ao tutano. E, sobretudo, porque, vendo tudo isto, se continua a seguir o mesmo caminho suicida.

(Cronica Jorge Eusébio, na edição 861 do jornal O Povo do Cartaxo e difundida na Rádio Cartaxo)

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