sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Toneladas de foguetes


Nos últimos dias tivemos notícias más e outras que, com a devida prudência, podem revelar-se positivas.
As más têm a ver com o temporal que abalou o país quase todo. Fica, mais uma vez, provado que, quando a mãe natureza resolve mandar-nos um berro, de imediato, nos reduz à nossa insignificância. Também daqui resultaram dúvidas sobre a sempre tão apregoada superioridade de gestão das empresas privadas. Justa ou injustamente, a EDP não ficou bem na fotografia pela dificuldade que revelou em mobilizar meios humanos e materiais para responder a uma situação que, a bem da verdade, foi, realmente, anormal.
A boa notícia foi que, finalmente, o Governo resolveu pedir mais tempo à troika para pagar a dívida, contradizendo o slogan que ouvimos vezes sem conta da boca do 1º ministro e do ministro das Finanças de que Portugal não iria pedir nem mais tempo nem mais dinheiro. Ao mesmo tempo, os chamados mercados internacionais resolveram voltar a emprestar-nos dinheiro, o que fez a equipa de Passos Coelho atirar não sei quantas toneladas de foguetes ao ar. É um passo positivo, mas que me parece não justificar tanto optimismo e auto-elogios. A verdade é que deixámos de estar dependentes da troika que nos empresta dinheiro a cerca de 3,5 por cento, para voltarmos a estar dependentes dos especuladores que nos sacam quase cinco por cento de juros. Numa primeira análise, não é brilhante. Para além de que, quem nos comprou dívida pode depois vendê-la no chamado mercado secundário e tem a garantia de que o Banco Central Europeu a vai comprar. É um negócio mais do que seguro, sem qualquer tipo de riscos. Eu bem que gostava que me aparecessem negócios destes, mas não consigo.

Mas é óbvio que com esta evolução, abrir-se-ão também as portas aos bancos nacionais que poderão ir buscar lá fora dinheiro que tanta falta faz às empresas e à economia. Resta saber se o vão utilizar, como fizeram no passado, não para financiar investimentos produtivos, mas para emprestar a amigos para jogarem na bolsa ou para fazerem negócios mais do que duvidosos. Convinha que o Governo, que enfiou rios de dinheiro nos bancos, os fiscalizasse agora como deve ser, mas isso, como diria o outro, não vai acontecer nem que Deus desça à terra. 

(Opinião, Jorge Eusébio)

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