terça-feira, 20 de novembro de 2012

Paulo Portas e Vítor Damas

Em tempo já muito distantes, fui jovem e inconsciente. É a desculpa que invento para justificar que, durante uns anos, tenha perdido parte do meu tempo, dinheiro e entusiasmo em campos de futebol. Mais precisamente, no do Portimonense, clube de que cheguei a ser sócio. Até que percebi que, para se ganhar jogos no futebol, não é condição essencial ter uma equipa bem organizada e recheada de bons jogadores e treinadores. É mais importante que se tenha uma boa equipa, sim, mas fora das quatro linhas, nos bastidores, junto das pessoas certas. E deixei de ir à bola, ponto final.
Mas, devo reconhecer, nem tudo foi mau nesses tempos. Ainda vi bons jogos de futebol e apreciei o talento de fantásticos jogadores. Assisti ao 'nascimento' do Pacheco, um jovem da casa, que mais tarde se tornou craque ao serviço do Benfica, do Sporting e da selecção nacional. Vibrei com a qualidade dos passes de Guetov e com a capacidade de fazer golos de Cadorin, o melhor jogador que passou por Portimão e que ficou ao lado de uma fantástica carreira, a nível nacional e internacional, devido a um infeliz acidente. E também ainda me lembro da passagem pelo clube do mítico guarda-redes Vítor Damas. Na altura, já estava na fase final da sua carreira, mas, ainda assim, era um monstro na baliza. Mas, Vítor Damas tinha também fascínio por fazer defesas para a fotografia. Recordo-me de jogadas em que bastava ele ficar a meio da baliza e estender os braços para agarrar a bola sem problemas, mas isso seria fácil demais para o seu gosto. E, então, dava dois ou três passos para o lado para, depois, atirar-se, em voo espectacular à bola, dando a sensação de ter feito uma defesa quase impossível.
Às vezes, ao ler notícias sobre o CDS e Paulo Portas, lembro-me de Vítor Damas. Não estou a sugerir que a qualidade de Paulo Portas como político seja idêntica à de Vítor Damas, como guarda-redes. Mas, é verdade que tem um certo talento para a actividade e se, à frente de uma 'equipa' pequena, chegou onde chegou, o que aconteceria se tivesse tido a sorte e o engenho de ir parar a um dos 'grandes', o PS ou o PSD... Mas, tal como Vítor Damas, também Paulo Portas gosta de fazer defesas para a fotografia. Como dizer ou mandar dizer que é contra a austeridade e muitas medidas do Governo, quando, depois, em Conselho de Ministros e no Parlamento, ele e o seu partido as aprovam. Como agora, a confirmar-se esta notícia do Diário de Notícias. O CDS espalhou aos quatro ventos que tinha insistido com o PSD para baixar drasticamente o financiamento aos partidos políticos, quando, afinal, votou contra uma proposta no mesmo sentido que o Bloco de Esquerda apresentou. Chama-se a isto trabalhar para a fotografia, dar espectáculo, no fundo, atirar areia aos olhos do Zé Povinho.

(Opinião - Jorge Eusébio)

Sem comentários:

Enviar um comentário