domingo, 18 de novembro de 2012

A mais jovem freguesia


Numa altura em que só se fala de extinção e fusão de freguesias, fomos em busca das razões que levaram à constituição da freguesia de Vale da Pedra, a mais jovem do concelho do Cartaxo. Joaquim Edgar (presidente da Freguesia) e José de Amorim Sereno são dois dos elementos que, em determinada altura, resolveram avançar com o processo que haveria de levar a que Vale da Pedra se tornasse ‘independente’ da freguesia de Pontével. Envolveram, então, a população numa luta que acabou coroada de sucesso, com a constituição da freguesia de Vale da Pedra, em 23 de Maio de 1988.
José de Amorim Sereno lembra que a gota de água foi a recusa do presidente da Junta de Pontével da altura de, nas eleições, colocar uma mesa de voto em Vale da Pedra, conforme era solicitado pela população local. Os meios de transporte não eram o que são hoje, pelo que, para conseguir votar, a maioria dos habitantes de Vale da Pedra tinha de se deslocar à sede da freguesial, “a pé, de carroça ou de bicicleta”. Não dava muito jeito, mas a resposta que obtiveram foi que “nem pensássemos nisso”. Uma resposta que não agradou e, desde logo, um grupo de pessoas decidiu que “se não vem a bem, vem de outra maneira”. Juntaram-se “aí uns 12 ou 13” e começaram a sensibilizar a população para a necessidade de Vale da Pedra se transformar em freguesia. Para se avançar com o processo burocrático, criou-se uma comissão e recolheram-se assinaturas de, praticamente, todos os moradores da zona.
A tarefa, a esse nível, não foi difícil, diz Joaquim Edgar, uma vez que a convicção geral era que “Pontével ralava-se pouco com Vale da Pedra, pouco fazia por nós, os caminhos eram de terra batida e estavam cobertos de silvas, não tínhamos cá nada”. Para quase tudo, era necessário ir a Pontével ou ao Cartaxo, “só havia aqui uns cafés, tabernas e mercearias, mais nada, isto era uma terreola”.
Foi a partir de 1983/4 que começou a tomar forma o processo de ‘divórcio’ que não foi pacífico. Em determinada altura, um grupo do qual José de Amorim fazia parte foi à Junta de Pontével “buscar um papel que era preciso para entregar na Assembleia da República e o presidente da Junta não o entregou”. Um impasse que só foi resolvido graças à intervenção dos serviços da Câmara, na altura liderada por Renato Campos.
Fazendo o balanço destes 24 anos como freguesia, ambos garantem que valeu bem a pena o esforço. “Então não valeu a pena, se não fosse isso, não tínhamos cá nada”, diz, convicto, José de Amorim. O seu companheiro de luta, Joaquim Edgar, lembra que o número de habitantes cresceu de cerca de 700 para quase 2000 e elenca as melhorias verificadas: “temos 99% das pessoas servidas com água canalizada, esgotos estão aí a 65%, exceptuando um beco, temos todas as estradas alcatroadas, temos farmácia, posto médico, temos uma creche nova, um Centro Social, uma igreja, uma escola melhorada e ampliada”.
De forma que, se de Lisboa vier a indicação de que esta será uma das freguesias a ter que se juntar com outra, está convencido que o povo vai novamente levantar-se em peso, pois “temos todas as condições para sobreviver sem ser preciso isso”.



(Reportagem, O Povo do Cartaxo e Rádio Cartaxo 26 Outubro 2012)

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