segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Portugal não é a Grécia


Em tempos, acusava-se o PCP de ter sempre a mesma cassete. Nos últimos anos tem sido o governo a usar e abusar de uma cassete: “Portugal não é a Grécia”. Aliás, quem ouviu o 1º ministro e a ministra das Finanças na passada semana e ainda lhes dá algum crédito, deve ter pensado que, em termos sociais e económicos, não só nos afastámos consideravelmente da Grécia, como já estamos bem perto da Alemanha.

É uma chatice a forma como a realidade consegue estragar uma óptima história. A verdade é que, apesar da brutal carga de impostos de que temos sido vítimas, a dívida pública portuguesa não pára de subir. No final de 2014 estava em 224,5 mil milhões de euros, um aumento de 5,3 mil milhões em relação a Dezembro de 2013!

Apesar de todos os esquemas (estágios, cursos e financiamento público a empresas privadas para terem as pessoas ocupadas e fora das estatísticas oficiais), a verdade é que o número de desempregados reais é uma loucura: cerca de 1,2 milhões, o que faz a taxa disparar para 23,8%

A nível social, números oficiais indicam que voltámos aos níveis de pobreza de há dez anos. E, ainda há dias, o presidente da Cruz Vermelha veio dizer que há cada vez mais portugueses que não têm dinheiro para comprar comida e pagar as contas da água e da luz, tendo a instituição ajudado com meio milhão de euros em 2014 para esse tipo de pagamentos.

Deve ser, portanto, este belo panorama que faz Passos Coelho garantir que “Portugal não é a Grécia” e que o programa de ajustamento está a correr às mil maravilhas. Não há ninguém que ofereça uns óculos ao homem? Ou um bocado de bom-senso?

(Opinião, Jorge Eusébio)





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