quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Serviço público

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

A situação financeira da Câmara é catastrófica. Disso se queixam os meus concorrentes e eu próprio. Fartamo-nos de dizer que não há dinheiro para nada e que o município vai andar a pão e água durante muitos anos. Em suma, garantimos que pior do que isto só mesmo o fim do mundo ou, ainda mais grave, a possibilidade do Benfica voltar a perder três títulos em duas semanas.
Mas aqui que ninguém nos ouve, até estou satisfeito por a situação ser esta. Assim que ganhar as eleições e tomar posse vou dizer que é ainda pior. Com esse cenário pintado, ao longo dos próximos dois anos e meio, as associações e juntas de freguesia não me vão chatear a pedir dinheiro nem as pessoas me exigirão qualquer obra de vulto.
Com essa folga, vou resolvendo os problemas financeiros, aos poucos, a situação do país há-de melhorar e começará a entrar algum dinheiro na Câmara. Sem que alguém dê por isso, vou colocando alguma verba de lado e, a ano e meio das eleições seguintes, começo a fazer obra que nunca mais acaba e acabo por ganhá-las com uma perna às costas.
Portanto, oito anos à frente da Câmara já ninguém me tira. O problema é que parece que a lei foi alterada e, ao fim desse tempo, não me vai ser ainda possível ir embora com a reforma garantida.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

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