quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Não se pode exterminá-los?

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
A entrevista na rádio correu bem. Mal saí do estúdio comecei a receber chamadas que confirmavam isso mesmo. O Jorge, o Armando, a Cátia e muitos outros fizeram questão de me felicitarem pela prestação. É gente isenta, que não mente e em cuja opinião posso confiar. É claro que por irem todos na minha lista, os más-línguas habituais poderão maldosamente alegar que estavam a dar graxa ao chefe. Mas eu sei que não é assim.
O que me irritou um pouco foi a tendência do entrevistador para cortar-me o raciocínio. É difícil passar uma mensagem quando nos estão a interromper... de dez em dez minutos. Ainda por cima com perguntas parvas e conclusões mais do que abusivas.
Por exemplo, ao longo dos anos sempre tenho criticado os gastos exagerados da câmara e a contratação, por parte do partido do poder, de um verdadeiro exército de boys, amigos e familiares. Pois bem, baseado nisso, o jornalista parece que queria que eu dissesse que ia fazer despedimentos, de forma a correr com essa gente, baixando, assim, os custos da autarquia. É claro que lhe dei a volta e contra-ataquei com o argumento clássico de que é preciso é motivar os funcionários para que trabalhem melhor e prestem um serviço de maior qualidade à população. Não sou suicida para vir assumir despedimentos a poucas semanas das eleições e correr o risco de perder centenas ou, mesmo, milhares de votos.
Mas o raio do homem fartou-se de insistir na pergunta, o que só me levou a consolidar a ideia de que as entrevistas  - pelo menos, comigo - funcionariam muito melhor se não tivessem entrevistadores jornalistas. É uma raça que não interessa nem ao menino Jesus.

*Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

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