sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Os últimos cartuchos


DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Hoje, estou a queimar os últimos cartuchos. Sinto-me um pouco ansioso e até nervoso, por causa de uma sondagem que nos chegou. Não se trata de uma daquelas marteladas, é uma a sério, feita para consumo próprio e não para fins propagandísticos.
E a verdade é que ela indica que as eleições não são favas contadas. Há uma luta, quase taco a taco, entre mim e o Ramalho. Ainda continuo na frente, muito provavelmente, vou ganhar, mas, quase de certeza, sem maioria absoluta. É um autêntico balde de água fria!
Até às tantas da noite desdobrei-me em telefonemas para dar ânimo ao meu pessoal e coordenar a intensificação da campanha ao longo do dia de hoje. Vamos andar por todas as freguesias com os carros de som e a malta a distribuir propaganda. Ao fim da tarde, arrancamos com uma caravana que tem de ser a maior que já circulou por aí, temos de dar um sinal de força rumo à vitória.
Depois disso, os dados ficam lançados, nada mais há a fazer a não ser tomar uma dose reforçada de Xanax e dormir até às quinhentas. Ao acordar, convém meter uma cunha a todos os santinhos para me ajudarem. Não sou um tipo religioso, mas confesso-me um gajo pragmático e com a decisão em aberto há que reconhecer que toda a ajuda é bem-vinda. Seja ela real ou imaginária.
E até estou disposto, caso o Além atenda às minhas preces, a fazer a promessa sagrada de que serei um bom presidente da Câmara, que olhará apenas e só para o interesse público e não para o seu, do partido, dos amigos e apoiantes. Pronto, está bem, sei que é uma promessa manhosa que, muito provavelmente, não irei cumprir, mas se Deus existe mesmo, sabe perfeitamente como funcionam os políticos e certamente não me levará a mal.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

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