segunda-feira, 12 de maio de 2014

Democratas com costela ditatorial

Ultimamente, anda por aí a aparecer muito a costela ditatorial de certos democratas.
Como se sabe, nesta espécie de democracia é possível aos cidadãos votarem. Se assim o entenderem, claro. O problema é que há cada vez mais gente a exercer o seu democrático direito de não ir votar. Em vez de se procurar perceber as causas dessa situação, começou a ser defendida uma solução de gente esperta, por alguns peixes graúdos da nossa... vá lá... democracia.
Depois de longas, profundas e sábias reflexões, esta malta chegou à conclusão de que só há muita abstenção porque esta é uma democracia mole. Ou seja, deixa ao critério de cada um, veja-se só, a possibilidade de ir ou não votar. Ora se se tornar o voto obrigatório já se acaba com a abstenção e fazemos um figurão entre os países europeus.
Estes heróis da democracia não dizem é como é que se castigaria os criminosos que não obedecessem a tão democrática lei. Provavelmente, só para avisar, numa primeira vez que não fossem votar, apanhariam uma valente multa para ajudar a combater o défice. A partir daí, se resolvessem repetir a gracinha, iriam de cana, imagino eu, que é para aprenderem a não pôr em causa a nossa bela democracia.
Enfim, não acho mal de todo, mas parece-me um plano ainda um bocado tosco. Para além de obrigarem as pessoas a ir votar à força - se calhar, até escoltadas por militares da GNR - também podiam obrigá-las a votar no partido A, B ou C. Para confirmar que tudo era feito como manda a lei, havia que colocar um senhor a fazer um exame prévio do voto de cada um, antes do mesmo ser colocado na urna.
Tudo a bem da democracia, claro.

PS: Por uma questão de igualdade de tratamento, acho bem que também os mortos fossem abrangidos por esta lei democrática. Pelos menos, os mortos que ainda estão inscritos nos cadernos eleitorais, que, ao que consta, são mais que as mães.

(Opinião, Jorge Eusébio)

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