terça-feira, 1 de outubro de 2013

O que aconteceu ao PSD?

O PSD/Cartaxo tinha quase tudo para ser feliz no dia das eleições. Estou no concelho há poucos anos, mas pessoas que há muito tempo acompanham a política e em cuja opinião confio dizem-me que apresentou das listas mais equilibradas de sempre. Foi também visível que fez uma campanha organizada e com cabeça, tronco e membros.
Mas, mais importante do que isso, tinha os seus rivais socialistas divididos em duas candidaturas, o que lhe dava a esperança de, eventualmente, poder ganhar as eleições, mesmo não tendo mais votos do que em 2009. Na base desta expectativa estava a ideia de que a esmagadora maioria dos votos que Paulo Varanda e o seu movimento conseguissem seriam votos retirados ao PS. E imaginemos que dos 2.281 votos que o ainda presidente de Câmara conseguiu, aí uns 75% tivessem realmente sido 'roubados' ao PS. Isso significaria que Pedro Ribeiro ficaria com menos de 3.300 votos. Ora tendo em conta que o PSD em 2009 obteve 3.309, estaria na luta pela vitória.

Um cenário que não se concretizou, acabando os social-democratas por ter um péssimo resultado. O que é que aconteceu?
Para responder a essa pergunta, convém regressar à fase de escolha do cabeça-de-lista. Havia duas hipóteses: ou o PSD voltava a apostar num independente, que desse uma imagem de maior abrangência ou apostaria numa figura partidária com grande experiência e capacidade política. Na altura, defendi que haveria mais vantagens da parte dos social-democratas em irem pelo primeiro caminho, voltando a apostar em Paulo Neves. Isso tinha a ver com a situação nacional que poderia contaminar as eleições locais. As pessoas do Cartaxo sabem que a Câmara está numa situação financeira muito complicada, vêm os caminhos e estradas esburacados, os apoios às colectividades cortados e, obviamente, não gostam e haverá a tendência de castigar nas eleições quem consideram responsáveis por isso. Mas também não gostam seguramente de ver os seus salários diminuídos, os seus impostos aumentados e os seus familiares desempregados. E sabem que a responsabilidade por isso acontecer é do poder central e não do local. Era previsível que muitos tivessem a tentação de punir o principal partido do poder, o PSD, nestas eleições.
Um candidato independente poderia mais facilmente demarcar-se do Governo. Bastava-lhe dizer que não era militante do partido, que também sofria por essas políticas, que não as defendia e que só se candidatava para fazer o que fosse possível pela sua terra. Caso arrumado.
O mesmo não poderia fazer uma pessoa como Vasco Cunha cuja imagem, por ser deputado, estava muito colada à política do Governo.
Ora, como se sabe, o PSD optou por avançar com Vasco Cunha. Mas, consciente do perigo que referi, tentou equilibrar as listas, enchendo-as de independentes e até de gente ligada à área socialista, procurando também, por esta via, dividi-la ainda mais. A estratégia pareceu-me inteligente e os social-democratas até tiveram a sorte de PS e Paulo Varanda não atacarem Vasco Cunha, ao longo da campanha, de forma a colá-lo ao Governo.

Afinal, as pessoas resolveram aproveitar mesmo as eleições locais para mostrarem um cartão amarelo ao Governo. Isso fez com que a maior parte das candidaturas do PSD apanhassem por tabela e registassem votações muito abaixo do que esperariam. Isso também aconteceu no Cartaxo.
Mas parece-me haver outra razão para o descalabro local dos social-democratas. Ao contrário do que eu próprio esperava, a votação de Paulo Varanda não foi conseguida, em boa medida, à custa do PS. Ao analisar os resultados, verificamos que, aparentemente, terá ido buscar votos a todos os partidos e um dos mais prejudicados até foi o PSD, que perdeu quase 1.100 votos. É evidente que não se pode dizer que houve uma transferência directa de votos da CDU, do Bloco e do próprio PSD para Paulo Varanda, ter-se-ão registado, seguramente, transferências cruzadas e haverá gente que não tinha votado há quatro anos e que foi votar agora. Mas o que é facto é que  todos esses partidos (PS incluído) perderam votos e Paulo Varanda arrecadou mais de 2.800.
Terá havido, igualmente, uma tendência para o voto útil. Muitos cartaxeiros que não gostavam de Paulo Varanda e da sua gestão poderão ter olhado ao lado e verificado que a melhor forma de o afastar do poder seria votarem na candidatura que estava estava em melhores condições de o derrotar e optaram pelo PS.

Mas a política (tal como a vida) não deixa de ser irónica. Apesar de ter tido um dos seus piores resultados de sempre nestas eleições, o mandato que se aproxima até pode ser aquele em que o PSD tenha mais influência e deixe a sua marca na governação autárquica. Mas sobre isso falarei num próximo post.

(Opinião, Jorge Eusébio)

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