sexta-feira, 5 de julho de 2013

Deus não estava particularmente inspirado quando inventou os políticos

(Crónica de 5 de Julho para a Rádio Cartaxo)
À hora a que gravo esta crónica, leio que Paulo Portas deverá continuar no Governo. Mas é bem provável que na altura em que a ouvem tudo tenha mudado pela milésima vez e o homem se tenha mesmo pirado, de forma a conseguir fazer oposição ao Governo a tempo inteiro e não apenas em part-time, como tem acontecido até agora.
Tem sido assim ao longo de toda a semana. Portas diz que sai e os restantes elementos do seu partido vêm atrás. Uns minutos mais tarde, ele sai, mas os outros ficam. Depois, ele regressa e é promovido. Mais tarde surge a notícia de que afinal o CDS apoia até à morte o Governo, mas Paulo Portas põe-se a milhas e, até à altura que gravo esta crónica, o mais recente desenvolvimento em relação a esta novela rasca é que o sr. presidente da República acordou do seu sono profundo e faz muita questão em que o líder do CDS fique.

Ao longo das últimas décadas tivemos muitas cenas tristes envolvendo políticos ao mais alto nível, mas acho que esta entra para o topo da lista. Começou com um ministro das Finanças que já queria ir embora há 8 meses, pois percebeu no que a triste política que protagonizou ia dar. E, ao sair, deixou uma confissão de derrota. Provavelmente, Passos Coelho não leu a carta e convidou para substitui-lo a pessoa que dava mais garantias de seguir cegamente a política que o próprio Vítor Gaspar assumiu ter falhado. Isso foi suficiente para Paulo Portas se passar da cabeça e, sem avisar ninguém, demitir-se e provocar toda esta novela mexicana.

Portas e Passos parecem uns putos traquinas, a ver qual deles consegue tramar o outro. Mas isso ainda seria o menos. O pior é que continuam, como têm feito nos últimos dois anos, a tramar-nos a todos. Estava na altura de abalarem, mas parece que vão ficar. Não temos mesmo sorte nenhuma.
De alguma forma, estes tristes episódios vêm revelar em todo o seu esplendor o que é a nossa nobre actividade política. É uma arte recheada de golpes baixos, traições e amuos em que em primeiro e, praticamente único lugar, estão os interesses dos protagonistas políticos. A conversa sobre o bem e serviço público é mesmo só para iludir o Zé Povinho.

Nesta altura do campeonato é ainda mais complicado aturar políticos, sobretudo os que concorrem às autárquicas. Muitos deles parecem, tal como Portas e Passos, miúdos de 5 anos, que se acham o centro do mundo, fazem birra por tudo e por nada e precisam de manifestações de carinho e afecto a toda a hora. E quem não lhes dá a devida atenção e não lhes diz são os maiores do mundo é porque está feito com o adversário.
Decididamente, Deus não estava num dos seus melhores momentos quando inventou os políticos.

(Opinião, Jorge Eusébio)

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