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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Se quisesse trabalhar vinha pedir emprego na Câmara?

Diário de um presidente de Câmara
Conforme já aqui disse, uma das primeiras medidas que tomei foi a de pôr à frente de cada sector da câmara a pessoa certa.

Quero dinamismo, profissionalismo, rapidez, trabalho e criatividade. Quero, essencialmente, que se acabe nesta câmara com a ideia de laxismo e incompetência.

Uma das primeiras histórias que, no gozo, me contaram quando resolvi aceitar a candidatura foi a de um tipo que tinha sido colega de escola do então presidente de câmara. Teve uns azares na vida e acabou por vir pedir emprego na câmara. O presidente lá o colocou a abrir a tapar buracos na rua. Acontece que o tipo passava o tempo a fumar, a conversar com quem passava, mas dar uso a enxada é que não. Até que o presidente perdeu a paciência, chamou-o ao seu gabinete e ordenou-lhe que tapasse de uma vez o raio de um buraco que até estava numa das zonas mais visíveis da cidade. Ao que o homem se terá virado para o autarca e lhe respondeu da seguinte forma: "então mas tu achas que se eu quisesse trabalhar vinha pedir emprego na Câmara"?

Outra história clássica - esta é anedota mesmo, a outra garantem-me ser verídica  - é a de três miúdos que contam as proezas atléticas dos respectivos pais, sobretudo, o tempo que conseguem nos 100 metros. Depois de ouvir os argumentos dos seus colegas, o terceiro puto saiu-se com esta: “isso não é nada, o mais rápido é mesmo o meu pai. Ele trabalha na câmara, sai as 5h30 e às 5 já está em casa”.

É com este tipo de ideias sobre os funcionários públicos que quero acabar. Mas com tempo, com calma e sem irritá-los excessivamente. É que os empregados da Câmara valem muitos votos.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Xeque-mate

Diário de um presidente de Câmara
Apesar de não ter maioria absoluta, nestes primeiros tempos tenho sabido lidar com a oposição. Tenho até enfrentado problemas maiores com malta do meu partido, em especial, dois deputados municipais que, de vez em quando, desalinham nas votações.
E chegou-me aos ouvidos que andam a tentar arranjar uma lista para se candidatarem à liderança da concelhia nas eleições internas que estão aí à porta. Uma possibilidade que é inaceitável, de forma que resolvi passar ao ataque.

Convidei o líder da oposição para jantar e disse-lhe que precisava que ele agitasse as ondas. O homem ficou confuso.
- Mas não tínhamos combinado que não te incomodava nestes primeiros tempos?
- Pois, mas preciso de agitar as coisas um bocado. Tens aqui estes documentos sobre algumas sacanices que dois tipos do meu partido fizeram. Podias fazer umas insinuações sobre isso.
Ele agarrou nos papéis que coloquei em cima da mesa, deu-lhes uma vista de olhos e abanou a cabeça.
- Isto são mais questões pessoais que politicas…
- Há aqui dinheiro público em jogo. Mas tu é que sabes. Passando para um assunto completamente diferente, sou capaz de ter arranjado uma solução para legalizar um dos projectos que meteste na câmara.
- Qual deles?
- O do hotel, que tinha aqueles problemas com o PDM.
- Eh, pá, isso e óptimo. Consegues mesmo?
- Se me empenhar nisso, é possível que consiga - e olhei para os papéis enquanto os empurrava um pouco mais para o lado dele.
Voltou a pegar neles e acabou por dizer:
- Bom, voltando aqui a este caso, realmente, é capaz de haver aqui um conflito de interesses da parte dos teus amigos por serem autarcas.
- É exactamente o que eu penso. Temos acordo? - Apertámos as mãos e, com aquele assunto resolvido, encomendámos o jantar, que já se estava a fazer tarde.

No dia seguinte, ele usaria os dados constantes naqueles documentos para atacar os meus dois deputados municipais rebeldes. E eu iria ser o primeiro a vir defendê-los, o que iria mobilizar e unir o partido em meu redor. Uns dias mais tarde, anuncio ser candidato à liderança da concelhia e, depois deste episódio, ninguém vai ter condicões para se apresentar contra mim.

De modo que, enquanto presidente da câmara e da concelhia do partido, fico com um poder quase absoluto no concelho. E, pronto, xeque-mate. Quem se mete comigo, leva.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quero é ir-me embora

Correu-me bem a entrevista na rádio. Sabia que o jornalista é algo impertinente e que iria tentar tramar-me com perguntas difíceis. Mas levava a lição bem preparada e independentemente do que ele perguntasse, a resposta era basicamente a mesma: a culpa é do meu antecessor. 

Ele acabou a entrevista meio chateado. No final, em off, desabafou que eu já parecia um comunista, sempre a debitar a mesma cassete.

Mas quero que ele se lixe. A minha estratégia ao longo de, pelo menos, a primeira metade do mandato vai ser esta: tudo o que de mal acontece na Câmara e no Município é resultado das asneiras do anterior presidente da Câmara e da sua equipa. Em especial, a desgraçada situação financeira que é bem pior do que imaginava, não me canso de gritar. 

O que até é (mais ou menos) verdade. Mas mesmo que não fosse já estava decidido desde o principio que esta era a estratégia que iríamos seguir. É que assim baixamos as expectativas, a população não nos vai exigir obras e as juntas e as colectividades não nos vão andar a bater a porta todos os dias a pedir dinheiro. A este nível, vai ser uma tranquilidade durante os primeiros 2/3 anos.

Depois  tapamos uns buracos nas ruas, limpamos os espaços públicos, abrimos um bocadinho os cordões à bolsa, inauguramos três ou quatro obras e ganhamos as próximas eleições com maioria absoluta.

Embora, espero eu, na altura, já com outro candidato a presidente, que quero é ir-me embora para o Parlamento Europeu.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um ninho de víboras



Gerir ou simplesmente trabalhar numa câmara não é para qualquer um. À falta de melhor definição direi que isto é  um mundo de loucos, um ninho de víboras. Devo confessar que não esperava que fosse assim tão mau.
Manipulação, bajulação, facadas nas costas de colegas são o pão nosso de cada dia. Vale tudo para ficar bem na fotografia perante os chefes e tirar proveito disso.
Acontece que sou político, de forma que adoro manipulação, bajulação e dar facadas nas costas dos outros para subir na vida.
Detesto dizer isto, mas começo a gostar de ser presidente de câmara. Sinto-me bem, em casa, e, sobretudo, que estou a ter uma grande aprendizagem sobre o lado mais negro das pessoas que me vai ser muito útil no resto da minha carreira política.

Outros episódios desta série:
 

sábado, 7 de junho de 2014

Não há dinheiro que pague os sacrifícios que temos de fazer

Esta história de ser presidente de Câmara dá mais trabalho e ocupa-nos mais tempo do que parece à primeira vista. O dia-a-dia  é ocupado de manhã à noite com reuniões com os técnicos, com os vereadores, com gente que vem pedinchar qualquer coisa. Com viagens a Lisboa para tentar convencer o presidente da CCDR, os ministros, os secretários de Estado, os directores-gerais e até quase  os porteiros  dos ministérios a ajudar-nos a resolver a montanha de problemas que temos. Isto de segunda a sexta-feira. Depois, ao fim-de-semana, há que andar a correr de freguesia em freguesia, de festa em festa, de associação em associação, em merdas que não valem um caralho. Mas se falhar a uma que seja, tenho os gajos a perna, nunca mais me vão perdoar por não ter aparecido e, obviamente, dexo de contar com umas boas dúzias de votos.
De forma que não tenho praticamente tempo nenhum para a família. O que e óptimo. Assim tenho desculpa para não ir as compras com a Magda, a minha mulher. Para não ajudar o meu puto, o Fernando, com os trabalhos de casa e, dessa forma, não colocar a nu a minha completa ignorância em relação à maior parte do que agora ensinam na porra das escolas. De não ter de ouvir as lições de moral da minha filha que é contra todas as injustiças do mundo e arredores.
Visto por este prisma, os meus primeiros tempos como presidente de Camara têm sido óptimos. A parte má e ter de ser simpático e de  sorrir para todos os meus potenciais eleitores. E, sobretudo, de ter de beijar o raio de todas as velhas que me aparecem pela frente.  Não há dinheiro que pague os sacrifícios que um presidente de Câmara tem de fazer!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Se ele se portar bem, claro

Contra todas as expectativas - em especial, as minhas - ganhei as eleições. Mas com maioria relativa, o que significa que, nas sessões de Câmara, tenho mais gente da oposição do que do meu partido.
Para outro qualquer político inexperiente isso poderia ser um problema. Para mim, não. Até porque acredito que, independentemente das diferenças partidárias e ideológicas, todos queremos o melhor para o concelho.
É esta minha atitude  - que alguns cínicos podem apelidar de ingénua - e o talento que tenho para fazer as pessoas mostrarem o seu lado mais nobre, que me tem permitido conseguir consensos e governar a Câmara sem problemas de maior. 
Isso e a promessa que fiz ao Marco, um dos vereadores da oposição, de promover a sua mulher, que é funcionária da autarquia. E de garantir ao seu colega de partido, o Zeca, que vou arranjar forma de legalizar aquelas construções ilegais da família dele. No final do mandato, e se ele se portar bem, claro.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Gente certa no lugar certo

O meu antecessor fartou-se de promover gente medíocre na Câmara, funcionários amigos ou do seu partido.
O resultado de tudo isto era uma organização caótica se é que se podia chamar áquilo organização. O departamento jurídico funcionava mal, o das obras era um desastre, o administrativo uma desgraça e por aí fora.
De maneira que uma das minhas primeiras prioridades foi colocar a casa em ordem. Por minha vontade teria corrido com toda aquela cambada de incompetentes, mas como estamos a falar de função pública, isso não e possível, pelo que me limitei a encostá-los e a colocar gente competente à frente de todos os departamentos.
Por acaso, reparei depois, é tudo malta que me apoiou na campanha. Uns de forma declarada, outros de maneira mais discreta, passando-me informação sobre a forma incompetente como o então presidente geria os recursos públicos.
Mas é óbvio que não foi por serem meus apoiantes que os promovi. Foi por serem excelentes profissionais, claro.

SÉRIE 'EU É QUE MANDO AQUI':

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Palavra de político


Telefonei a cada um deles a desculpar-me muito, mas que por razões imprevistas não poderia dar-lhes, para já, o tacho prometido. E acrescentava que, obviamente, continuava a contar com eles e que depois de pôr a Câmara na ordem, haveria de se encontrar uma alternativa.

Do outro lado ouvi um pouco de tudo: críticas, choros, insultos e até ameaças de ordem física. E, curiosamente, no fim, quase todos desabafaram ter ficado muito desiludidos comigo, pois pensavam que fosse um homem de palavra.

Foi difícil, mas arrumei este assunto. E até fico satisfeito por não os ter escolhido para a equipa. Não me ia safar a ter a trabalhar para mim gajos que acham que os políticos devem ser homens de palavra e cumprir as suas promessas. Do que eu me safei!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Moeda ao ar

Como não esperava ganhar as eleições, receio ter cometido algumas imprudências, ao longo da campanha eleitoral.
Por exemplo, ofereci o cargo de chefe de gabinete da presidência ao Chico. E também ao Vicente. E, se não me engano, também ao Ribeiro e ao Costa.
Se a memória não me falha, igualmente garanti o lugar de adjunto a, pelo menos, outros cinco dedicados apoiantes.
Bom, agora lá vou ter de resolver o problema, que remédio. Depois de intensa reflexão sobre quais os candidatos com melhores capacidades para desempenhar, fiquei na mesma. Acabei por resolver o problema pelo científico e infalível método da moeda ao ar. Ganhou o Vicente.
Agora, há que tentar arranjar um cargozito menos importante e lucrativo para alguns dos outros e arranjar boas e inúteis desculpas para atirar os outros pela borda fora.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Estou lixado, ganhei as eleições

Acabei por ganhar as eleições por uma unha negra. A margem foi tão pequena que a oposição até exigiu a recontagem dos votos. Confirmada a vitória, a minha malta quase estourava de alegria. Foi uma loucura, algo nunca visto no concelho, nem sequer faltaram os foguetes. Todos viviam um momento inesquecível. Todos, menos eu.
Francamente, nunca me passou pela cabeça ganhar estas eleições autárquicas.
Só fui candidato por dever de lealdade partidária. Por duas vezes, o secretário-geral do partido fez questão de se encontrar pessoalmente comigo para me convencer a avançar. Fez-me ver que não tinha mais ninguém que garantisse um bom resultado no concelho. Apelou ao meu amor pelo  partido e assumiu que ficaria em dívida para comigo se resolvesse ser candidato.
Fui resistindo o mais possível, até que, por dever de lealdade partidária, resolvi avançar. Por isso e por, na segunda reunião, ele me ter garantido um lugar elegível na lista para o Parlamento Europeu.
E, afinal, sem saber ler nem escrever, acabei por ganhar as eleições autárquicas. Durante pelo menos quatro anos vou ser o senhor presidente desta terreola de fim-do-mundo, em vez de seguir viagem para a civilizada Bruxelas. Raios partam isto. Mais uma vez se confirma que não tenho sorte nenhuma na puta da vida. Ganhei as eleições. Estou lixado!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Os últimos cartuchos


DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Hoje, estou a queimar os últimos cartuchos. Sinto-me um pouco ansioso e até nervoso, por causa de uma sondagem que nos chegou. Não se trata de uma daquelas marteladas, é uma a sério, feita para consumo próprio e não para fins propagandísticos.
E a verdade é que ela indica que as eleições não são favas contadas. Há uma luta, quase taco a taco, entre mim e o Ramalho. Ainda continuo na frente, muito provavelmente, vou ganhar, mas, quase de certeza, sem maioria absoluta. É um autêntico balde de água fria!
Até às tantas da noite desdobrei-me em telefonemas para dar ânimo ao meu pessoal e coordenar a intensificação da campanha ao longo do dia de hoje. Vamos andar por todas as freguesias com os carros de som e a malta a distribuir propaganda. Ao fim da tarde, arrancamos com uma caravana que tem de ser a maior que já circulou por aí, temos de dar um sinal de força rumo à vitória.
Depois disso, os dados ficam lançados, nada mais há a fazer a não ser tomar uma dose reforçada de Xanax e dormir até às quinhentas. Ao acordar, convém meter uma cunha a todos os santinhos para me ajudarem. Não sou um tipo religioso, mas confesso-me um gajo pragmático e com a decisão em aberto há que reconhecer que toda a ajuda é bem-vinda. Seja ela real ou imaginária.
E até estou disposto, caso o Além atenda às minhas preces, a fazer a promessa sagrada de que serei um bom presidente da Câmara, que olhará apenas e só para o interesse público e não para o seu, do partido, dos amigos e apoiantes. Pronto, está bem, sei que é uma promessa manhosa que, muito provavelmente, não irei cumprir, mas se Deus existe mesmo, sabe perfeitamente como funcionam os políticos e certamente não me levará a mal.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Serviço público
Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Serviço público

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

A situação financeira da Câmara é catastrófica. Disso se queixam os meus concorrentes e eu próprio. Fartamo-nos de dizer que não há dinheiro para nada e que o município vai andar a pão e água durante muitos anos. Em suma, garantimos que pior do que isto só mesmo o fim do mundo ou, ainda mais grave, a possibilidade do Benfica voltar a perder três títulos em duas semanas.
Mas aqui que ninguém nos ouve, até estou satisfeito por a situação ser esta. Assim que ganhar as eleições e tomar posse vou dizer que é ainda pior. Com esse cenário pintado, ao longo dos próximos dois anos e meio, as associações e juntas de freguesia não me vão chatear a pedir dinheiro nem as pessoas me exigirão qualquer obra de vulto.
Com essa folga, vou resolvendo os problemas financeiros, aos poucos, a situação do país há-de melhorar e começará a entrar algum dinheiro na Câmara. Sem que alguém dê por isso, vou colocando alguma verba de lado e, a ano e meio das eleições seguintes, começo a fazer obra que nunca mais acaba e acabo por ganhá-las com uma perna às costas.
Portanto, oito anos à frente da Câmara já ninguém me tira. O problema é que parece que a lei foi alterada e, ao fim desse tempo, não me vai ser ainda possível ir embora com a reforma garantida.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Frases bonitas que não querem dizer nada

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Esta é a altura da campanha em que nos fartamos de distribuir os folhetos com as fotografias dos nossos candidatos e o essencial do programa para cada freguesia. A técnica é simples. Faz-se um desdobrável A4 ou A5 de quatro páginas. Na primeira, coloca-se a foto do cabeça-de-lista, um slogan e o apelo ao voto na nossa candidatura. Na última, espeta-se as fotos de todos os que fazem parte da lista. É muito importante que não falhe nem uma.
Nas páginas centrais coloca-se mais uma ou duas fotos, normalmente, a do candidato à Junta e a minha e uma frase de cada um. O resto enche-se com texto que se vai buscar a programas de anteriores eleições, pois isto, basicamente, é sempre a mesma lengalenga.
Contudo, este ano, temos que ter um pouco mais de atenção. Como há a possibilidade de ganhar as eleições, convém eliminar qualquer tipo de promessa concreta que tenhamos utilizado nas últimas autárquicas. Em alternativa, garantimos que vamos "promover o progresso", "dinamizar as actividades económicas", "apoiar os mais desfavorecidos" e "potenciar os recursos da Câmara". São frases que caiem sempre bem mas que, felizmente, não querem dizer nada.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

Uma campanha limpa e sem ataques pessoais

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)

Ontem à noite, fizemos uma reunião da direcção de candidatura para levar a cabo um balanço e definir estratégias para a última semana de campanha. Foi unânime a ideia de que nos mantemos na frente e que temos todas as condições para ganhar as eleições. Tal como esperávamos, duas das candidaturas estouraram autenticamente e mostraram não ser rivais à altura. A única que ainda continua com algum fôlego é a do Ramalho e é com essa que temos de nos preocupar.
Em devido tempo, elaborámos um dossier com os podres todos dele e dos gajos que o acompanham e agora havia que decidir o que fazer com o documento. O meu director de campanha defendeu que devíamos aproveitar as entrevistas, debates e comícios que ainda temos pela frente para os expor publicamente. Uma ideia que contou com muito apoio, o que me deixou numa situação complicada. Tive de usar toda a minha autoridade, prestígio e esgrimir os melhores argumentos que me ocorreram para os convencer a não irem por esse caminho.
Lembrei-lhes que a nossa candidatura é diferente, que fazemos política por convicções e queremos essencialmente acabar com a tradicional maneira porca de a fazer. Portanto, nenhum de nós devia publicamente dizer uma palavra que fosse sobre os 'pecados' daquela gente. Concordaram, sobretudo, depois de lhes lembrar que também nós não somos perfeitos e de certeza que eles sabem disso.
Portanto, vamos manter o rumo e continuar a desenvolver uma campanha séria, limpa, honesta e sem ataques pessoais. E obviamente que não será culpa nossa se o dossier sobre os nossos adversários aparecer, anonimamente, nos e-mails da comunicação social e começar a circular de boca em boca sob a forma de rumores, boatos e insinuações.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO

sábado, 21 de setembro de 2013

A guerra dos porcos

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
Afinal, lá realizámos o comício. À última hora, conseguimos contratar um tipo que sabe assar porcos no espeto e, como se esperava, com este problema resolvido, o comício acabou por ser um êxito.
Apareceu muita gente, comeram bem, beberam melhor e cumpriram decentemente o seu papel de aplaudir e agitar bandeirinhas.
No final, foi muito agradável ouvi-los dizer que tinham gostado muito do meu discurso e garantido que iam votar na minha candidatura.
Foi bom e melhor seria se pouco depois não tivesse recebido uma notícia que me deixou e à minha equipa em estado de choque: uma das candidaturas concorrentes estava a preparar uma jogada suja. Como não têm ideias próprias, vão copiar a nossa estratégia e fazer também um grande comício para o qual já encomendaram a brutalidade de... 15 porcos para transformar em bifanas e distribui-las à borla por quem apareça.
Para grandes males, grandes remédios. Dei logo ordem ao Ricardo para organizar outro evento e comprar pelo menos 20 porcos. Vamos rebentar com o orçamento da campanha, mas que se lixe. Sempre quero ver quem consegue os melhores argumentos para convencer o eleitorado.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O gajo não podia ter adoecido noutra altura?

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
O comício de logo à noite é muito importante. Por isso, passei as últimas horas a escrever, a ler, a rever e a corrigir o meu discurso.
Com a tarefa concluída, liguei para os restantes elementos da lista que vão, igualmente, dizer umas palavras e fiquei tranquilo. Também eles já haviam preparado as suas curtas intervenções.
O meu interlocutor seguinte foi o Ricardo que me garantiu já ter decorado a sala e ter as bandeirinhas a postos. Óptimo. Saí e fui ao café desanuviar um bocadinho. 
Ao regressar, constatei que me havia esquecido do telemóvel, o qual se encontrava numa aflição tremenda. E o caso não era para menos. Definitivamente, o comício estava lixado, o melhor era até cancelá-lo. É que, afinal, o homem que contratámos para assar os porcos teve um problema qualquer de saúde e não pode vir. E o diabo é que, como toda a gente sabe, as ideias e os discursos podem ser muito bonitos, mas se não há bifanas e cerveja à borla, ninguém aparece.
Raios parta esta merda. O gajo não podia ter adoecido noutra altura?


 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO:
 Ganho pouco
Uma equipa de gente séria
Sondagens marteladas

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ganho pouco

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
Não sou uma pessoa muito simpática. Por natureza, sou até pouco sociável, um autêntico bicho do mato. Mas ninguém diria, pois sou um mestre na arte de disfarçar os meus sentimentos. Em público mostro-me sempre bem-disposto, aperto as mãos com convicção e um sorriso nos lábios aos homens que se me apresentam pela frente e distribuo beijos sem fim às senhoras. 
Também não sou um homem de fé, mas estou sempre batido nas missas, nas procissões e, nesta altura do campeonato, até nos funerais. 
Não percebo nada de economia, mas quem me ouve falar durante dois minutos fica, imediatamente, convencido da minha competência na matéria e que tenho as soluções mágicas para resolver a grave situação financeira da Câmara e, quiçá, do próprio país.
Modéstia à parte, sou um excepcional actor. Por isso é que me revolto sempre que ouço tiradas populistas do género dos políticos ganharem demasiado. Admito que isso seja verdade em relação a alguns colegas, mas, no que me diz respeito, acho que recebo infinitamente menos do que mereço. E é fácil fazer as contas. Comparados comigo, o Robert de Niro e a Julia Roberts são actores fraquinhos ou, vá lá, de talento mediano. E se exigem uns cinco ou seis milhões de dólares por cada filme que protagonizam, eu deveria ganhar, pelo menos, aí uns 10 milhões por cada campanha eleitoral que faço.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Uma equipa de gente séria
Sondagens marteladas

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Uma equipa de gente séria

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
Tenho um grande orgulho na minha equipa que bate, de longe, as de todas as outras candidaturas. É, para começar, a mais representativa. Temos pessoas de todas as freguesias, ligadas às colectividades, aos clubes, à vida comunitária e cultural. Temos candidatos de todos os estratos etários, dos 18 aos 85 anos! Temos representantes de todas as classes sociais: gente abastada, empresários de sucesso, doutores, engenheiros, mas também pedreiros, carpinteiros e desempregados. Tudo gente séria, que está nesta equipa de forma desinteressada, por amor à terra, para tentar melhorar o ambiente, os espaços verdes, a educação, o trânsito, para ajudar a trazer empresas e empregos para o concelho. É gente que me enche de orgulho. Muita gente, mesmo. No total, julgo que serão mais de uma centena. Com a ajuda de tantos esforçados cidadãos, não tenho dúvidas que vou ganhar as eleições. O pior vai ser depois, quando começarem a bater-me à porta para pedir uns tachos para eles, para os filhos, para os sobrinhos, para as mulheres ou para as amantes…

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

 OUTRAS AVENTURAS DO CANDIDATO IMAGINÁRIO
Sondagens marteladas