sexta-feira, 12 de abril de 2013

Crime de guerra em tempo de paz


Ontem, no Correio da Manhã, o bastonário da Ordem dos Médicos escrevia que, por causa da contenção de custos, há hospitais com equipamentos e técnicas de ponta que estão a recusar doentes que deles precisam para sobreviver. Alguns têm até os equipamentos fechados, suponho que a cadeado. Não os utilizando, poupam umas coroas para ajudar a baixar o défice. Que, no entanto, só para chatear, não pára de subir. Ou seja, o que José Manuel Silva escreve, preto no branco, é que por causa da austeridade está-se a deixar morrer pessoas, quando há meios humanos e materiais para tratá-las.

Um governo deve cuidar da sua população, do seu povo. Foi eleito para isso e não para ficar bem visto perante alguns figurões estrangeiros. Foi eleito para defender vigorosamente os interesses do seu país e não para dizer que sim a tudo o que lhe mandam.
Diz-se que estamos nas mãos dos credores internacionais e temos de fazer o que eles mandam. Ora, isso não é bem assim. Apesar de sermos um país pequeno, temos uma dívida grande. E desconfio que os nossos credores preferem que a paguemos. Eu também acho que a devemos pagar, mas por este caminho, mais cedo ou mais tarde, não haverá dinheiro para pagar absolutamente nada. Os próprios credores já perceberam isso e apesar de os nossos governantes continuarem com a conversa louca de que vamos cumprir as condições acordadas, são eles próprios que estão a abrir-nos as portas a esticar o prazo de pagamento por mais uns anos.

É melhor que nada, mas não chega. Temos, agora, que batalhar para baixar significativamente os juros que nos estão a cobrar. Aliás, acho que o que se deve fazer é convencê-los a ajudar-nos a reestruturar toda a dívida. A solução seria a troika conceder-nos um novo empréstimo de longo prazo, a juros muito baixos.  Com esse dinheiro, pagaríamos os empréstimos que temos a juros elevados e teríamos, então, possibilidade de criar condições para pôr a nossa economia a crescer e, dessa forma, arranjar dinheiro para pagar a dívida.
De outra forma, não a vamos conseguir pagar. Mas isso ainda é o menos. O mais grave é que já entrámos numa fase em que não se está só a atirar gente para o desemprego e a pobreza. O que se está a fazer, a acreditar no que diz o bastonário da Ordem dos Médicos, é mesmo matar pessoas ao negar-lhes o tratamento que está disponível nos hospitais. Salvo melhor opinião, estamos perante um autêntico crime de guerra em tempo de paz. 
(Opinião, Jorge Eusébio)

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