Ontem, no
Correio da Manhã, o bastonário da Ordem dos Médicos escrevia que, por causa da
contenção de custos, há hospitais com equipamentos e técnicas de ponta que
estão a recusar doentes que deles precisam para sobreviver. Alguns têm até os
equipamentos fechados, suponho que a cadeado. Não os utilizando, poupam umas
coroas para ajudar a baixar o défice. Que, no entanto, só para chatear, não pára
de subir. Ou seja, o que José Manuel Silva escreve, preto no branco, é que por
causa da austeridade está-se a deixar morrer pessoas, quando há meios humanos e
materiais para tratá-las.
Um governo
deve cuidar da sua população, do seu povo. Foi eleito para isso e não para
ficar bem visto perante alguns figurões estrangeiros. Foi eleito para defender
vigorosamente os interesses do seu país e não para dizer que sim a tudo o que
lhe mandam.
Diz-se que
estamos nas mãos dos credores internacionais e temos de fazer o que eles
mandam. Ora, isso não é bem assim. Apesar
de sermos um país pequeno, temos uma dívida grande. E desconfio que os nossos
credores preferem que a paguemos. Eu também acho que a devemos pagar, mas por
este caminho, mais cedo ou mais tarde, não haverá dinheiro para pagar
absolutamente nada. Os próprios credores já perceberam isso e apesar de os
nossos governantes continuarem com a conversa louca de que vamos cumprir as
condições acordadas, são eles próprios que estão a abrir-nos as portas a
esticar o prazo de pagamento por mais uns anos.
É melhor que
nada, mas não chega. Temos, agora, que batalhar para baixar significativamente
os juros que nos estão a cobrar. Aliás, acho que o que se deve fazer é convencê-los
a ajudar-nos a reestruturar toda a dívida. A solução seria a troika
conceder-nos um novo empréstimo de longo prazo, a juros muito baixos. Com esse dinheiro, pagaríamos os empréstimos
que temos a juros elevados e teríamos, então, possibilidade de criar condições
para pôr a nossa economia a crescer e, dessa forma, arranjar dinheiro para
pagar a dívida.
De outra
forma, não a vamos conseguir pagar. Mas isso ainda é o menos. O mais grave é
que já entrámos numa fase em que não se está só a atirar gente para o
desemprego e a pobreza. O que se está a fazer, a acreditar no que diz o bastonário
da Ordem dos Médicos, é mesmo matar pessoas ao negar-lhes o tratamento que está
disponível nos hospitais. Salvo melhor opinião, estamos perante um autêntico
crime de guerra em tempo de paz.
(Opinião, Jorge Eusébio)
Sem comentários:
Enviar um comentário