Nos últimos dias tivemos
notícias más e outras que, com a devida prudência, podem revelar-se positivas.
As más têm a ver com o
temporal que abalou o país quase todo. Fica, mais uma vez, provado que, quando
a mãe natureza resolve mandar-nos um berro, de imediato, nos reduz à nossa
insignificância. Também daqui resultaram dúvidas sobre a sempre tão apregoada
superioridade de gestão das empresas privadas. Justa ou injustamente, a EDP não
ficou bem na fotografia pela dificuldade que revelou em mobilizar meios humanos
e materiais para responder a uma situação que, a bem da verdade, foi,
realmente, anormal.
A boa notícia foi que, finalmente, o Governo resolveu pedir mais tempo à troika para pagar a dívida,
contradizendo o slogan que ouvimos vezes sem conta da boca do 1º ministro e do
ministro das Finanças de que Portugal não iria pedir nem mais tempo nem mais
dinheiro. Ao mesmo tempo, os chamados mercados internacionais resolveram voltar a
emprestar-nos dinheiro, o que fez a equipa de Passos Coelho atirar não sei
quantas toneladas de foguetes ao ar. É um passo positivo, mas que me parece não
justificar tanto optimismo e auto-elogios. A verdade é que deixámos de estar
dependentes da troika que nos empresta dinheiro a cerca de 3,5 por cento, para
voltarmos a estar dependentes dos especuladores que nos sacam quase cinco por
cento de juros. Numa primeira análise, não é brilhante. Para além de que, quem
nos comprou dívida pode depois vendê-la no chamado mercado secundário e tem a
garantia de que o Banco Central Europeu a vai comprar. É um negócio mais do que
seguro, sem qualquer tipo de riscos. Eu bem que gostava que me aparecessem
negócios destes, mas não consigo.
Mas é óbvio que com esta
evolução, abrir-se-ão também as portas aos bancos nacionais que poderão ir
buscar lá fora dinheiro que tanta falta faz às empresas e à economia. Resta
saber se o vão utilizar, como fizeram no passado, não para financiar
investimentos produtivos, mas para emprestar a amigos para jogarem na bolsa ou
para fazerem negócios mais do que duvidosos. Convinha que o Governo, que enfiou
rios de dinheiro nos bancos, os fiscalizasse agora como deve ser, mas isso,
como diria o outro, não vai acontecer nem que Deus desça à terra.
(Opinião, Jorge Eusébio)
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