Esta é uma tese que tem conseguido
grande sucesso, apesar de não ser verdadeira. É óbvio que houve gente que andou
a viver do crédito, mas não é por aí que chegámos à desgraça actual. Há dias,
esteve em Santarém Paulo Morais, o vice-presidente da Associação Transparência e
Integridade, que desmontou esta e outras histórias da carochinha. A parte da dívida privada que é resultado
deste tipo de empréstimos é de apenas 15%. Idêntica percentagem é a que tem a
ver com o financiamento às empresas, enquanto que o grosso da dívida (e recordo
que estamos a falar de dívida privada e não pública) tem a ver com empréstimos concedidos
pela banca a especuladores amigos, sobretudo da área do imobiliário, sem exigir
as necessárias garantias reais.
Quanto à dívida pública, ela resulta de
muitos factores. Uma das facturas mais pesadas refere-se com as obras
faraónicas decididas pelos políticos para darem muitos milhões a ganhar às
empresas do regime. Empresas para onde, obviamente por coincidência, muitos
deles acabaram por ir trabalhar depois de saírem do Governo. A cereja no topo
do bolo foi a invenção das chamadas parcerias público-privadas, em que as
perdas vão todas para o estado e os lucros para o bolso dos parceiros privados. Paulo Morais, cuja conferência se pode
ver no site do jornal O Ribatejo, dá o exemplo de uma auto-estrada em que se os
índices de sinistralidade aumentarem 10%, a empresa responsável pela sua
manutenção tem de pagar 600 mil euros ao Estado. Mas se for ao contrário, ou
seja, se a sinistralidade diminuir em idêntica proporção, o Estado é obrigado a
dar-lhe um prémio de 30 e tal milhões de euros. É, como se vê, um contrato
equilibrado e que defende o interesse público.
Outro dos grandes responsáveis pelo
buraco das contas públicas é, como todos sabemos, o apoio dado aos bancos. Em
especial, a decisão de nacionalizar o BPN, que nos custou cerca de 7 mil
milhões. Coisa pouca e sem importância, tendo em conta que uma das pessoas que
exerceu funções de importância na empresa proprietária do banco foi, nos
últimos dias, elevado à categoria de ministro. E, portanto, voltámos ao início.
Os culpados da crise são os gajos que compraram dois telemóveis em vez de um. O
resto é conversa, são teorias da conspiração.
(Opinião, Jorge Eusébio)
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