quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os suspeitos do costume

Se a política fosse um campeonato de futebol, podia dizer-se que, na última semana, melhor dizendo, na última jornada, o Governo ganhou pontos em dois campos. Depois de somar montes de derrotas e empates, lá obteve uma vitória muito festejada, com a ida aos ‘mercados’ mais cedo do que se esperava.
Mas ganhou também pontos no campo do adversário, o PS, sem sequer ter necessidade de ir a jogo. Os socialistas são gente muito dinâmica e não precisam da ajuda de ninguém para dar tiros nos pés. Em vez de actuarem como uma equipa coesa e solidária, cada um dos seus pseudo-craques joga para si e para a bancada.
No PS, está a assistir-se a um filme muito antigo, já de barbas brancas. O argumento conta-se muito rapidamente: havia um indivíduo (António Costa, ao que parece) que tinha o sonho de ser líder do PS, mas não lhe apetecia estar a avançar em época de vacas magras, sem o horizonte do poder à vista. De forma que empurrou, ou ajudou a empurrar, o militante que estava mais à mão (António José Seguro). Entretanto, o PSD e CDS já levaram a cabo uma parte substancial do trabalho sujo e, devido a isso, há a possibilidade de, mais cedo do que se suponha, cederem o Governo ao PS. De forma que, assim sendo, António Costa parece já estar disposto a ‘sacrificar-se’ pelo país. Como em todos os argumentos de cinema ou novela, há também neste, outros sub-enredos, sendo, neste caso, os mais significativos os protagonizados pela tralha socrática.
Acontece que estes episódios em nada contribuem para a nossa felicidade. Quem continua a ganhar com o ‘sucesso’ da ida de Portugal aos mercados são os bancos estrangeiros que, através da troika, nos vendiam dinheiro a 3,4% de juros e agora continuam a financiar-nos, mas a quase 5%. Indirectamente, quem também pode ganhar é o sector financeiro português que vê abrirem-se mais portas de financiamento. De forma que passará a ir lá fora buscar dinheiro para, como é hábito, emprestar às grandes empresas e aos amigos e conhecidos que queiram comprar acções, porque parece que as cotações já começaram a subir.
Para os restantes 99,999999% portugueses, estas manobras não aquecem nem arrefecem. As empresas vão continuar a fechar, o desemprego a aumentar e o fisco a exigir aos cidadãos o que têm e o que não têm.
Em face disto, a gente olha para o PS e vê que está mais preocupado em brincar às lideranças do que em apresentar-se como uma alternativa séria e credível.
Em resumo, eles divertem-se e quem se trama são os suspeitos do costume.

(Opinião - Jorge Eusébio - Texto originalmente escrito no jornal O Povo do Cartaxo, que pode assinar aqui)

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